Guia de Inclusão na
Educação Física na Escola Comum

Estratégias Metodológicas

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O que a literatura discute sobre estratégias metodológicas

Para entender a relevância e assertividade das estratégias metodológicas de professores de Educação Física é importante dizer o que esse entende por educação inclusiva. Para Abreu (2009) entendemos o que é Educação Inclusiva:

“ao reconhecer que as dificuldades enfrentadas nos sistemas de ensino evidenciam a necessidade de confrontar as práticas discriminatórias e criar alternativas para superá-las, assume questões significativas na discussão acerca da sociedade contemporânea e do papel da escola na superação da lógica da exclusão”(p.16).

No entanto a concepção adequada sobre a educação inclusiva não garante que a inclusão aconteça. Cunha (2015) realizou sua pesquisa analisando as estratégias pedagógicas de dois professores de Educação Física da rede regular de ensino pública de Fortaleza, que tem em suas aulas estudantes com deficiência sensorial, física e/ou intelectual. Seus resultados indicam que os estudantes com deficiência encontram nas aulas de Educação Física barreiras à aprendizagem e dificuldade de participação. Relata que “em relação ao discurso, as falas dos professores indicaram um descompasso em seus depoimentos acerca da inclusão escolar, que reflete em suas práticas, visto que estas não favorecem a inclusão dos estudantes com deficiência” (p.01).

Para Siqueira (2011) estratégias e ações didático-metodológicas para uma educação inclusiva nas aulas de Educação Física regular evidenciam direcionamentos como: “educar o olhar para o aluno e não para a sua deficiência” (p.98); “reconhecer a importância do momento de atendimento individualizado” (p.99); “ressignificar o momento de atendimento individualizado” (p.68); observar a necessidade de organização do caderno de dever de casa (p.78); criar arranjos didáticos no momento individualizado (parcerias por afinidades) (p.100) e arranjos didáticos nas aulas de Educação Física regula (p.101). Por fim, focaliza a inclusão sensibilizando a escola a se modificar e ressignificar seus espaços/tempos em função das necessidades educacionais de seus alunos” (p. 69).

Bezerra (2010) estudou diversas estratégias de ações pedagógicas que podem tornar as aulas de Educação Física mais ou menos inclusivas. Relata que as “atitudes de exclusão já são bem conhecidas da Educação Física, afinal a relação do homem com o movimento foi construída e amparada no desempenho e nos padrões corporais culturalmente estabelecidos” (Bezerra, 2010, p.55). Para que a exclusão não seja uma regra nas aulas de Educação Física é preciso que o professor crie diversas estratégias para uma mesma atividade, proporcionando assim a possibilidade de participação e de sucesso para todos os estudantes, encontrando habilidades nos que são considerados não habilidosos nas práticas esportivas.

Os professores de Educação Física, na maioria das vezes, não têm documentos que os direcione a realizar aulas mais inclusivas. Gonsalves (2009) em sua pesquisa analisa documentos que visam direcionar a educação inclusiva do Ministério da Educação e documentos da Secretaria de Educação de Florianópolis e verificou que estes pouco auxiliam na escolarização nas “quadras” das escolas e que trazem um discurso romântico vinculado à proposta da educação inclusiva. Concluí que para o surgimento de novas possibilidades metodológicas a área da Educação Física deve assumir o debate em questão para incluam num mesmo espaço pessoas com e sem histórico de deficiência.

Para além da falta de informação, para que o professor tenha uma ação pedagógica inclusiva é fundamental que esse tenha atitudes positivas quanto a educação inclusiva. Freitas (2012) realizou uma pesquisa com 29 professores de escolas da rede municipal e estadual de Londrina verificando as atitudes destes em relação à inclusão e concluiu que a maioria dos professores independente da idade e da formação possuem atitudes negativas quanto a inclusão de estudantes com deficiência na educação Física na escola regular.

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A prática esportiva foi historicamente construída de forma competitiva e como uma prática de exclusão. No entanto com uma estratégia metodológica diferenciada o esporte pode ser inclusivo.

No trabalho de Fiorini (2011) a atividade competitiva também aparece como excludente, ela pesquisou seis professores de Educação Física da Rede Estadual do Ensino Fundamental (5ª série/6° ano a 8ª série/9° ano) e Ensino Médio da Região de Marília – SP e verificou a concepção deles quanto à inclusão. O relato de um dos pesquisados que vai ao encontro desse fato foi:

Só a turma de TRE-I-NO que exclui mas a turma de treino é aquele aluno que nós escolhemos aquele que têm habilidade que é competitivo, agora aula normal eles têm o DI-RE-I-TO de fazer, eles têm direito (FIORINI, 2011, p.45).

Na pesquisa de Abreu (2009) também foi possível verificar que a prática desportiva competitiva era priorizada pelo professor, em alguns momentos, prejudicando as aulas e a inclusão, uma vez que os estudantes com menor performance no esporte, como é o caso da estudante com deficiência que participava das aulas desse professor, não era convidado para treinamento e para competições.

Duarte (2015) também analisou a ação pedagógica de dois professores de Educação Física em turmas inclusivas do ensino fundamental I mas em uma escola da rede privada de ensino na cidade de Salvador. Em seus estudos verificou que os professores apresentam ações e estratégias que favorecem as interações entre as crianças com deficiência e outros estudantes, professores e monitora, entretanto apresentam fragilidade que carecem de reflexões, observações e leituras críticas.

As atividades esportivas e/ou competitivas não são necessariamente exclusivas, o que favorece a exclusão é a estratégia abordada pelo professor para evidenciar o respeito as diferenças ou exacerbar a falta de habilidade de alguns. Bezerra (2010, p. 55) nos mostra que é possível realizar atividades nas aulas de Educação Física sem excluir as pessoas com menos habilidades esportivas e assim com aulas mais inclusivas:

Para proporcionar uma maior dinâmica em suas aulas, muitos professores e Educação Física tentam equilibrar o jogo com escolhas que não premiam os alunos mais habilidosos em um mesmo grupo. Assim, o equilíbrio de fatores variados no processo de escolha dos alunos, com intuito de formar subgrupos de trabalho, constitui-se uma excelente estratégia que aponta para participação de todos os alunos no decorrer da atividade proposta, amenizando as possíveis diferenças estabelecidas culturalmente no grupo.

A Educação Física por ter atividades mais atrativas, com maior contato entre os alunos e de maior aceitação pode ser um momento que facilita a convivência, respeito pela diferença e inclusão. Mas as estratégias metodológicas do professor podem intensificar ou dificultar esse fato. Oliveira (2013) em sua dissertação analisou o discurso de 18 alunos do 6o ano do Ensino Fundamental, sendo dois com deficiência intelectual, e da Professora de apoio com objetivo de compreender como a prática pedagógica vivenciada nas aulas de Educação Física possibilita a inclusão escolar de alunos com deficiência intelectual. Como resultado pode-se verificar que a Educação Física foi fundamental para a aproximação entre os estudantes na escola.

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No mesmo estudo a professora de Apoio diz reconhecer a importância da Educação Física na inclusão dos estudantes com deficiência intelectual, segundo a professora:

“Esse tipo de aula, ajuda muito os dois alunos, aliás influencia a classe inteira, mostrando em forma de slides os conteúdos, em tópicos enxugados, traz uma melhor aprendizagem, pois eles aprendem no todo, o AL2 não consegue transcrever, então se você passar, ele vai copiar, mas não vai saber o que está escrevendo; o professor explicando ele vai lembrar o que foi mostrado [...]” (OLIVEIRA, 2013, p. 46).

Bezerra (2010) chamou as ações que favorecem a interação, respeito e inclusão dos estudantes como estratégias de convivência. O autor relata que as aulas de Educação Física por causa das movimentações corporais, aproximações de corpos proporcionada pelas atividades, e necessidade de comunicação durante as atividades, facilita a convivência social. Essa convivência social pode ser positiva ou negativa. O professor com boas estratégias e olhar sensível pode ter papel fundamental para que essas relações sociais sejam positivas e inclusivas.

O encaminhamento atribuído pelos professores de Educação Física na condução das relações sociais, que se estabelecem no cotidiano das aulas de Educação Física é construído com base na relação interpessoal vivida nas aulas. Os sentimentos advindos da relação professor-aluno e entre os próprios alunos, antes, durante e após as aulas, podem estar recheados de fatores afirmativos na construção social dessa relação ou podem apresentar conflitos que prejudicarão o andamento do processo de ensino e aprendizagem. Portanto, é preciso haver a construção de um leque de acordos com propósito de favorecer o ambiente de aprendizagem. A construção coletiva dessas possibilidades de acordos será nomeada, nesse estudo, de estratégias de convivência (BEZERRA, 2010, p. 59).

Algumas vezes os próprios profissionais da escola podem impossibilitar a inclusão nas aulas de Educação Física. Abreu (2009, p.76) relata em sua pesquisa a falta de conhecimento da escola sobre a importância da disciplina de Educação Física na inclusão e no desenvolvimento das crianças. Foi verificado que quando a escola tem problemas com professores ou administrativos as aulas de Educação Física são realizadas com duas turmas. Alguns relatos da equipe pedagógica da escola mostram esse fato: “Na quadra é mais fácil porque brincando as crianças não veem o tempo passar”; “Na quadra pode fazer barulho que não atrapalha o conteúdo”; “Preferimos contar com a Educação Física já que as outras disciplinas não planejaram o conteúdo para duas turmas e para a Educação Física não faz diferença”. Essa concepção e ações dificultam a estratégia metodológica do professor para inclusão. O autor relata que:

“O professor explicita o que constitui um problema histórico-cultural na Educação Física escolar, ou seja, a delegação aos professores de Educação Física, pela direção da escola, de tarefas que envolvem a organização de festas, danças típicas, a cessão do horário de aula da Educação Física para os ensaios etc., em detrimento das aulas regulares, secundarizando a importância dessa disciplina no currículo.” (p.84).

Apesar da dificuldade do professor estudado ser real com a desvalorização da Educação Física na escola, Abreu (2009) verificou que quando o professor tinha condições de efetivar sua aula com estratégias inclusivas esse fato não ocorreu. Um exemplo disso é que quando a aluna com síndrome de Down não participava da aula voluntariamente, o professor “solta” a bola de basquete para que ela brinque sozinha em outra quadra, não estimulando a inclusão na atividade que os demais colegas estão fazendo.

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Da mesma forma Mendes (2010) em sua pesquisa na escola pública de ensino fundamental do município de Vitória estado do Espirito Santo também verificou que a professora dava a bola de basquete para o estudante com síndrome de Down e para o estudante com baixa visão e os estimulava ficar arremessando a bola no sexto sem incentiva-los a participar da aula com os demais colegas.

O estudo de Ramos (2015) analisou professores de Educação Física do IFBA/Câmpus de Barreiras sobre as possibilidades do uso da Tecnologia Assistiva, em uma perspectiva lúdica, como estratégia metodológica. A autora conclui que o uso da Tecnologia Assistiva pode ser utilizado de forma lúdica, nas práticas pedagógicas, como uma ferramenta tecnológica/pedagógica, potencializa a inclusão do aluno com deficiência na Educação Física Escolar, apesar dos desafios para efetivar a inclusão.

O trabalho interdisciplinar na escola pode ser outra estratégia metodológica para favorecer o trabalho colaborativo e a inclusão do estudante com deficiência nas aulas de Educação Física, mas esse fator pouco apareceu nos estudos que analisamos. Francisco (2011) relata que dos 10 professores que foram por ele entrevistados, apenas um cita a necessidade do trabalho interdisciplinar.

Orlando (2010) e Souza (2008) realizaram seus estudos sobre uma estratégia que pode favorecer a inclusão de estudantes com deficiência na escola comum que é o colega tutor. Souza (2008) analisou a atuação do colega tutor com um estudante com transtorno do espectro autista e Orlando (2010) realizou a mesma análise mas o estudante com deficiência envolvido tinha deficiência visual. Os dois trabalhos apontam que o colega tutor é uma estratégia que aumenta a participação do estudante com deficiência nas aulas de Educação Física mas que é preciso uma atenção especial ao treinamento do colega que será tutor dessa criança.

Outra ação que pode favorecer a inclusão de pessoas com deficiência na escola e na Educação Física Escolar é a participação da família. Segundo pesquisa de Gomes (2012) mais de 70% das famílias tem participação moderada à total, demonstrando uma boa participação da família na escola. Diferente dos resultados encontrados por Mahl (2012) que relata que uma das dificuldades encontradas pelos professores que pesquisou foi a falta de apoio das famílias na educação dos alunos. Assim não temos como generalizar dizendo que a família é atuante ou não na escola, pois as famílias são diferentes. Assim como as famílias dos estudantes sem deficiência também temos famílias atuantes e famílias que nunca foram na escola de seus filhos.

Bezerra (2010) realizou uma pesquisa em quatro escolas da Rede Municipal de Educação do município de São Luís, envolvendo 18 professores de Educação Física que tinham estudantes com deficiência em suas turmas, constituindo um universo de 128 estudantes com 14 estudantes com alguma deficiência. Para Bezerra (2010) na ação pedagógica do professor algumas estratégias favorecem a aula de Educação Física mais inclusiva, são elas: organização dos alunos no espaço da quadra; estratégia de instrução; a primeira estratégia; estratégia de convivência; estratégia de adaptação; estratégia de ensino inclusivo; estratégia de aula livre; e estratégia de finalização e consolidação.

Algumas outras estratégias metodológicas podem fazer a diferença tornando a aula e a atividade mais ou menos inclusiva, com base nos estudos encontrados abordaremos os seguintes fatores: organização dos alunos, instrução nas aulas de Educação Física; Utilização de matérias e escolha da Atividade.

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Contribuições da nossa pesquisa de campo sobre estratégias metodológicas


Por meio das observações das aulas dos professores de educação física da escola especial por nós pesquisada, constatamos que muitos educandos que possuem um comprometimento motor e/ou cognitivo muito grande, ou seja, que dependem de outros para executarem tarefas simples, como por exemplo se locomoverem de um lugar para o outro, em grande parte, não sentem-se acolhidos nas escolas comuns, pois as mesmas não possuem a mesma estrutura quer seja física, nem todos os professores e atores da escolas têm formação e conhecimento acerca da pessoa com deficiência, conforme constatado na fala de um professor pesquisado durante uma das aulas ministradas:

Escutamos alguns relatos que as escolas regulares muitas das vezes não têm capacidade de incluir todos os alunos na escola, sabe, as vezes falta formação, conhecimento sobre o que é a deficiência, o que pode ser feito com esse aluno, o que deve evitar, sabe? Então escutamos muito isso, aqui na (escola especial pesquisada) meu filho tem mais condições de aprender, fazer aulas, porque nós conhecemos as deficiências. (P2)

Acreditamos e buscamos uma escola comum inclusiva para todos, mas infelizmente ainda vivenciamos na escola a exclusão das pessoas com deficiência com maiores comprometimentos, inclusive com recusa de matrícula e quando aceitos sem profissionais de apoio e condições mínimas para aprendizagem e desenvolvimento.

Apesar da organização escolar, infraestrutura e materiais facilitarem a inclusão, sem estratégias pedagógicas adequadas a ação excludente irá prevalecer.

Quedas (2015) reforça o que os professores pesquisados dizem e relatam que umas das características da pessoa com Transtorno do Espectro Autista (TEA) é a “dependência de rotina e resistência a mudança” (p.22). Siqueira (2011) também apresenta essa característica do estudante com TEA dizendo que “as rotinas podem assumir uma função calmante fundamental, as vezes, em vez de ser um obstáculo para seu desenvolvimento, constitui-se numa facilitação importante” (p.74). Esse fator não é normalmente presente na Educação Física na escola comum que tem muitos conteúdos, principalmente os esportes, para trabalhar durante o semestre, o que muitas vezes não permite a repetição de conteúdo, mas que pode repetir exercícios por exemplo no aquecimento para aula, trazendo assim esse conforto para os estudantes com TEA.

Uma estratégia metodológica observada nas aulas na escola especial pesquisada, foi a repetição de algumas atividades e exercícios como por exemplo, do circuito de atividades e da caminhada na esteira que foi observada em quase todas as aulas. Apesar da repetição de exercícios e de movimentos foi possível verificar nitidamente o cuidado com que essas atividades não fossem mecanizadas e não tivessem como objetivo pura repetição. Os professores explicam os objetivos e finalidades dos movimentos para todos os educandos independente do nível de sua deficiência e entendimento, garantindo assim uma prática com contextualização e sentido para o educando.

Em alguns relatos presentes nas entrevistas verificamos que os professores explicam sobre a importância da repetição para estudantes com TEA:

...então a repetição ela é importante para que em alguns casos até automatiza o movimento, em outros casos não é a questão de automatização, mas que ele se organize melhor e compreenda qual é a proposta daquela atividade, qual que é o objetivo daquela atividade, o que que ele tem que fazer, então as crianças com deficiência intelectual se beneficiam da repetição de um modo geral, assim dizendo. (P3)

Repetição e a questão da automatização, então, quanto mais repetir, é igual você andar de carro, depois você vai passar a marcha você nem percebe, você da a seta e não percebe, então você vai automatizando o movimento, vai aprendendo, daqui a pouco você vai fazer aquilo sem perceber. As vezes a criança tem dificuldade no andar, no (preambular), então o fato de eu estar andando treinando a marcha, vai melhorar e auxiliar na marcha. A questão da plataforma vibratória, a questão também do equilíbrio, aumentar o tônus muscular, a questão da força, da resistência, assim, objetivo 1 - automatização do movimento e o outro é a grande força e resistência muscular no caso da plataforma vibratória, por isso a questão da repetição, quanto mais você faz uma atividade, que você tem dificuldade, mais você vai aprendendo, o movimento repetido vai te auxiliar a ter um ganho de qualidade nesse movimento. (P9)

... esses educandos nosso trabalhar muito a repetição mesmo, a fixação deles vem através principalmente de repetição, não muda muito principalmente os educandos que a gente tem que são mais graves vamos dizer assim. Autista principalmente fazem um trabalho de repetição, você tem criar uma certa rotina com eles, rotina de trabalho, eles tem rotina de qual atendimento é o primeiro, qual que é o último, porque sabe que hora que tem que ir embora, ou seja você tem que criar uma rotina com eles de trabalho. (P6)

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Segundo a Lei Brasileira de Inclusão (Lei 13146, 2015) no Capítulo IV sobre Educação, Artigo 28, item VII, diz que todo atendimento à pessoa com deficiência na escola deve partir de um “planejamento de estudo de caso, de elaboração de plano de atendimento educacional especializado, de organização de recursos e serviços de acessibilidade e de disponibilização e usabilidade pedagógica de recursos de tecnologia assistiva”.

Os professores pesquisados relatam que na escola especial o estudo de caso é o primeiro passo para o atendimento adequado:

...A gente faz estudo de caso de cada criança para conhecer melhor, para saber como que está na psicopedagogia, com que está na psicomotricidade, como que está, sabe? (P1)

A gente faz os estudos de caso, isso contribui demais para o desenvolvimento do trabalho da gente. Faz o relatório. Esse é um relatório assim, que ele vai abranger todas as áreas que o aluno está, todos os atendimentos, né? Então é uma contribuição que cada profissional está dando para o desenvolvimento do educando. É fundamental, para o desenvolvimento. (P1)

Uma das estratégias importante para inclusão dos estudantes com deficiência na Educação Física escolar é o olhar atento para uma avaliação constante do desenvolvimento de cada aluno especificamente, e principalmente com relação ao estudante com deficiência. Sem desconsiderar o grupo, o professor inclusivo é aquele que tem um olhar sensível e intervenção rápida para que os estudantes com maior dificuldade ou desinteresse às atividades, agindo para que todos tenham o seu melhor desempenho nas atividades. Para isso entendemos que o planejamento e as atividades propostas devem ser flexíveis, como já dissemos que vimos nas aulas que observamos na Escola Especial pesquisada.

A atenção às especificidades de cada estudante é observada no relato dos professores de Educação Física da instituição por nós pesquisada:

A gente tem uma visão de que quando vai trabalhar com deficiência, pegamos características gerais daquele tipo de deficiência se é o síndrome de Down o aluno vai agir da mesma forma, e não é. Tem as características de espectro autista, claro, mas nem todos os alunos vão se englobar em todas aquelas características, ou vão se englobar em algumas e outras não, busco sempre o que cada aluno necessita, tem sua forma de aprender as vezes você trabalha uma mesma metodologia e aí não funciona, ai você vai ter que mudar a metodologia pra atingir aquele mesmo objetivo, cada ser é individual, cada ser tem suas necessidades específicas. (P3)

Ele primeiramente é o visual, você vai fazer a leitura do educando, ao chegar um educando, você faz uma anamnese com ele. Separamos esse educando para uma pré-avaliação, para saber o que que ele traz para gente e a partir daí falar, com esse educando nós vamos trabalhar isso ou aquilo com ele, porque é dessa forma que a gente faz a aqui, a gente projeta as atividades em cima do que ele traz para gente. (P6)

As estratégias pedagógicas mais acertadas vêm de um planejamento bem realizado, no entanto, outro fator que aparece na literatura como uma dificuldade da escola comum que é a possibilidade, incentivo e condição para o planejamento do trabalho com a pessoa com deficiência (ABREU, 2009; MAHL, 2012; FILUS, 2011; BEZERRA, 2010; ABREU, 2009).

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Na escola comum o planejamento é uma prioridade. O professor P9 relata sobre as reuniões para planejamento e revisão do Projeto Político Pedagógico da instituição:

A gente, faz uma reunião, olha o PPP e dá o direcionamento a abordagem científica, principalmente que a Educação Física aqui, se divide nessas duas áreas, que é a psicomotricidade e a atividade aquática. Então lá tem elencado essas modalidades, autores citados, mas nada impede também questão da flexibilidade do plano.

O planejamento das atividades na instituição pesquisada é citado várias vezes pelos professores em diferentes contextos de suas falas:

As crianças que conseguem desenvolver o nado a gente está fazendo isso até porque tem uma participação nos jogos paradesportivos e a participação nos jogos paradesportivos anda influenciando nossos planejamentos de aulas. (P7)

Olha na verdade a gente faz um planejamento aí terminou esse planejamento e como nossos meninos tem um tempo de espera mais limitado a gente divide muito o espaço de aula aqui (P8)

Na verdade, eu vejo que os equipamentos contribuem para melhora e é do planejamento desse professor nas suas ações (P2)

Outro aspecto positivo apresentado na escola especial pesquisada com relação ao planejamento das aulas de Educação Física é o fato de uma vez por semana, especificamente as sextas-feiras, com exceção de poucos professores que estão em aula, são deixados os horários do período (matutino e vespertino) para reuniões sobre as aulas, sobre os educandos, trocas de experiências, leituras e outras atividades que se faz necessárias para aprimorar o trabalho na instituição.

Pudemos observar essa atividade na fala da professora P3, “nas sextas-feiras não têm atendimentos, a gente não dá aula, fazemos reunião para trocar ideias sobre as aulas.”

Para além do planejamento a falta de políticas públicas dificulta a inclusão nas escolas comuns. Nesse sentido uma das professoras pesquisadas aponta a necessidade de Políticas Públicas para que a inclusão aconteça na educação brasileira:

Eu acho que é por aí mesmo, não sei se já foi comentado, mas a análise que eu sempre faço com relação isso é que o Poder Público dê mais atenção para que a lei não fique somente no papel, porque temos a lei que protege a pessoa com deficiência, porém não adianta a gente ter a inclusão dizer que tem a inclusão e na hora de efetivar na prática, sofremos com as barreiras. P5

Apenas com políticas públicas de inclusão poderemos favorecer a Educação Inclusiva, pois existem fatores de maior amplitude que dificultam a inclusão que vão além da prática pedagógica do professor, como transporte público, barreiras sociais e arquitetônicas (PEREIRA, 2014).

Como vimos, estratégias pedagógicas como repetição de atividades com permanência de rotinas, planejamento, estudo de caso sem desconsiderar o grupo, avaliação processual constante do desenvolvimento de cada aluno e em especial do estudante com deficiência podem favorecer uma escola mais inclusiva. No entanto a presença da pessoa com deficiência e suas especificidades podem demandar mais ações pedagógicas específicas.