Educação Especial e Inclusão Pesquisas do Centro Oeste Brasileiro

A inclusão de alunos com necessidades educativas especiais nas aulas de dança na disciplina de Educação Física

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Autoras: Lázara Thaisa Gonçalves de Oliveira, Renata Machado de Assis

Introdução

O presente estudo teve como objeto de investigação a inclusão nas aulas de dança, na disciplina de Educação Física, enfocando a formação dos professores que trabalham com os alunos que têm algum tipo de necessidade educativa especial e o desenvolvimento do conteúdo específico de dança.

Autores como Assis, Silveira e Gonçalves (2008), Dellani e Moraes (2012), dentre outros, têm se dedicado ao tema inclusão nas escolas. Nas publicações encontradas, percebe-se que a Educação Física tem a possibilidade de interação e inclusão dos alunos “sem” com os alunos “com” necessidades educativas especiais. Essa interação se torna um benefício para a formação individual dos alunos, pois estes e até mesmo o professor passam a conhecer e a respeitar os que têm necessidades educativas especiais e suas limitações. Para isso, o docente também deve rever se sua formação está adequada para trabalhar com este público. De acordo com Assis, Silveira e Gonçalves (2008), é preciso verificar se os professores se sentem preparados para lidar com a inclusão, por se tratar de uma nova realidade educacional. As autoras afirmam que o professor precisa estar preparado para receber esses alunos e tentar superar seus próprios preconceitos, e também, para adaptar as aulas. Ele deve conhecer a necessidade educativa especial de todos os alunos, para entender as suas limitações e para que consiga planejar as aulas de forma que inclua os alunos com necessidades diferentes.

Para o exercício da prática pedagógica nas escolas é preciso que o professor de Educação Física procure a formação continuada para se qualificar e aprender a lidar com alunos que têm necessidades educativas especiais. A escola, juntamente com o docente, deve buscar a superação do conhecimento pelo conhecimento, de modo a incentivar e estimular o aluno a sistematizar as informações adquiridas. De acordo com Mileo e Kogut (2009), a formação continuada é um importante suporte para a prática profissional dos docentes, que possibilita o exercício de sua função social.

Para além do conhecimento dos conteúdos em si, o professor também precisa lidar com os obstáculos do dia a dia e com isso o docente não está presente apenas para ministrar os conteúdos e sim para auxiliar na formação social desses alunos, incentivando para que cada um respeite o próximo. A Educação Física é considerada uma disciplina que ajuda na socialização e interação dos alunos entre si.

A pesquisa desenvolvida buscou compreender se os docentes que trabalham nas escolas públicas estão buscando embasamento teórico para trabalhar tanto a dança com os alunos considerados normais, quanto com os alunos com necessidades educativas especiais, ou seja, há interesse em investigar se os professores de Educação Física se sentem aptos, ou se estão buscando rever seu embasamento teórico para trabalhar com este conteúdo nas turmas inclusivas. Ao mesmo tempo, interessa saber como é a participação dos alunos com necessidades educativas especiais nas aulas de dança, ou seja, de que forma esta inclusão ocorre, e se ocorre. Diante do exposto, o objetivo geral da pesquisa foi investigar como ocorre a inclusão de alunos com necessidades educativas especiais nas aulas de Educação Física, especificamente em aulas de dança, e verificar a formação dos professores desta área para lidar com turmas inclusivas, a partir dos seus relatos.

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Torna-se necessário, portanto, discorrer sobre inclusão, dança e formação dos professores para trabalharem com alunos com e sem necessidades educativas especiais.

A educação física e a inclusão: conhecendo a formação dos professores

Pode-se depreender que a Educação Física vem sendo desenvolvida no Brasil de acordo com as necessidades da sociedade, ou seja, levando em consideração as mudanças político-sociais, e atualmente tem-se a consciência que a Educação Física é um elemento extremamente essencial para a formação do cidadão (SOARES, 2012).

Como a Educação Física adotou, no decorrer dos tempos, um caráter mais sociocultural e voltado para a formação ampliada dos alunos durante as aulas, é possível afirmar que a inclusão se torna um relevante tema a ser tratado no que se refere às aulas desta disciplina e, especialmente, ao se trabalhar com a dança.

Inicialmente é preciso compreender o que é a inclusão. A inclusão de alunos com necessidades educativas especiais durante as aulas vem se mostrando como um novo caminho a ser trilhado pelos professores de Educação Física, pois a educação é direito do aluno, independente de ele ter ou não necessidades educativas especiais. No entender de Dellani e Moraes (2012), a inclusão inova no sentido de buscar os direitos e o lugar das pessoas com deficiência na sociedade, garantindo o acesso igualitário.

Por meio de estudos como os de Dellani e Moraes (2012), pode-se afirmar o quanto são importantes as aulas inclusivas, tanto para a interação dos alunos ao meio social quanto para sua formação educacional.

Um dos problemas enfrentados pelos professores, na prática pedagógica, é a dificuldade de lidar com determinados conteúdos. Anteriormente, apenas com a formação inicial o professor já era considerado apto para trabalhar com os alunos, mas isso vem mudando com o tempo, pois agora o docente precisa estar em constante busca de conhecimento, visto que, de acordo com Antunes (2012), nos dias atuais o trabalho docente está em constante transformação, é dinâmico, e se não houver contínua atualização o professor corre o risco de ficar defasado, comprometendo até mesmo o exercício de sua profissão. Por isso é relevante que haja a formação continuada.

No que se refere à formação dos professores de Educação Física na atuação inclusiva, Nascimento et al (2007) afirmam que a Educação Física adaptada é uma área que vem sendo mudada e que precisa de qualificação adequada dos professores que estão dispostos a trabalhar com este público. De acordo com estes autores, a universidade tem desempenhado seu papel de apresentar as disciplinas para os acadêmicos, mas deve ser do seu interesse procurar melhorias para sua própria formação com intuito de trabalhar em qualquer área dentro do processo educacional. É preciso que o professor de Educação Física busque aproveitar as oportunidades de formação, mas deve ir além dos conteúdos vivenciados na universidade. Além disso, de acordo com Araújo e Araújo (2000), não se pode mais valorizar apenas a aptidão física, pois o professor precisa ter uma visão mais aberta em relação ao aprendizado dos seus alunos, de modo a trabalhar mais as suas vivências corporais, abrangendo todas as possibilidades de conteúdos que a Educação Física apresenta.

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É bastante comum a inclusão de alunos com necessidades educativas especiais nas aulas de Educação Física, mas para ministrar estas aulas inclusivas o professor precisa estar capacitado e conhecer as limitações de cada aluno e adaptar suas aulas considerando essas especificidades, para que não ocorram situações em que o discente não consiga executar as atividades propostas. É preciso adequar as aulas para os diferentes tipos de sujeitos. De acordo com Rodrigues et al (2004), deve-se identificar as diferenças e o tempo de cada um, bem como deixar de lado rótulos, pré-conceitos e classificações presentes no coletivo social.

A dança, especificamente, por ser um dos conteúdos trabalhados na disciplina Educação Física, contribui para essa interação entre participantes, independentemente de suas condições individuais. No entender de Bregolato (2007), dança é considerada basicamente movimentos que o corpo pode reproduzir. Todo movimento realizado pelo corpo, que tem atos considerados repetitivos, ou que pareçam descoordenados perante aos olhos dos alunos ou de quem olha por fora, geralmente pode ser considerado dança. A dança tem uma ação expressiva. Ao dançar atribui-se expressões e emoções aos movimentos corporais.

Mesmo a dança apresentando comprovada relevância para a formação dos alunos, este conteúdo parece estar sendo menos utilizado pelos professores de Educação Física, como afirma Lomakine (2007). No entender da autora, embora a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) de 1996 assegure um lugar para a dança na escola, isso não significa que ela esteja inserida em um contexto educacional. Pelo contrário, “a dança na escola costuma estar desvinculada de um processo de ensino-aprendizagem que deveria contar com a participação efetiva dos alunos levando-os, entre outras coisas, à compreensão do corpo como construção cultural” (p. 39). No seu entender, embora a dança tenha seu lugar assegurado na escola, é preciso que ela efetivamente seja trabalhada e os professores precisam rever suas metodologias de ensino, possibilitando que os alunos tenham contato com esse conteúdo durante sua formação.

A inclusão nas aulas de educação física e na dança

O papel do educador em relação à inclusão leva em consideração as possibilidades de socialização entre os alunos, sendo que os alunos sem deficiência terão que ter consciência que é necessário exercitar os sentimentos de solidariedade e acolhimento com o próximo, especialmente com os alunos que têm necessidades educativas especiais.

A prática educacional inclusiva é importante não somente na formação educacional, mas também na socialização, ou seja, esse trabalho de inclusão tem como objetivo também preparar a interatividade tanto com as pessoas com necessidades educativas especiais quanto com os que não têm deficiência, fazendo com que todos se conscientizem de que são iguais, independente da cor, raça, classe social, e principalmente se possuem ou não alguma deficiência visível ou não visível. No entender de Fonseca e Silva (2010, p. 2), “inclusão envolve a reestruturação das culturas, políticas e práticas nas escolas de forma que elas respondam à diversidade de alunos de sua localidade atendendo as suas diferenças e peculiaridades”.

Portanto, a contextualização da inclusão se dá a partir da visão da reconstrução da cultura onde pessoas com necessidades educativas especiais vivem, levando em consideração que nessa inclusão pode ou não haver o processo excludente, mas que os professores têm que estar preparados com metodologias adequadas para resolver as situações que surgirem.

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Aime, Sena e Awad (2014) constataram que, nos últimos anos, pode-se notar que há uma grande mobilização da sociedade a favor das pessoas que antes eram consideradas incapazes, e também há um grande movimento contra o preconceito. No entender dos autores, a inclusão dos alunos no ensino regular ocorre de forma vagarosa, mas isso está sendo possível graças ao incentivo de alguns professores que estão buscando ajudar e incluir alunos com deficiência.

A dança tem se mostrado uma excelente possibilidade de trabalhar o processo inclusivo na escola. De acordo com Silva et al (2012), pode-se perceber que nos diferentes períodos históricos a dança sempre foi relevante no cotidiano do ser humano.

Silva et al (2012) explicitam a importância desse conteúdo nas aulas de Educação Física e expõem que a dança pode ser vista de vários ângulos, que tem inúmeros benefícios para a formação do aluno, especialmente que pode auxiliar o aluno a ter um físico mais saudável e a aprender a lidar com os aspectos emocionais, intelectuais e sociais.

No entender de Sousa, Hunger e Caramaschi (2014), o conteúdo de dança é trabalhado na escola tanto pela área de Educação Física quanto pela de Artes, mas “a dança ainda passa por um processo de valorização, já que nem sempre consegue o devido espaço comparando-se com os demais conteúdos escolares” (p. 505).

Para compreensão da importância da dança especialmente na formação desses alunos com necessidades educativas especiais, recorre-se à publicação de Ramos (2010), que transmite as contribuições de se trabalhar esses conteúdos artísticos com alunos que têm algum tipo de deficiência, tais como o desenvolvimento mental e social, bem como a parte física, de um modo geral. No entender da autora, a dança propõe um conhecimento de várias áreas do corpo e com isso proporciona um desenvolvimento global do indivíduo, fazendo com que o aluno possa desenvolver outras habilidades que complementem as que eles não possuem. Este conteúdo permite conhecer várias culturas e permite ao praticante a descoberta do seu próprio corpo e o respeito que se deve ter com o corpo do próximo. Outros fatores muito importantes são a socialização e processo cognitivo.

Este conteúdo é rico e favorável ao desenvolvimento dos alunos, especialmente daqueles que têm necessidades educativas especiais. Por meio das aulas de dança, os alunos ficam mais interessados em participar, em executar movimentos que não são comuns ao seu cotidiano. E a disciplina de Educação Física pode lhes possibilitar essa vivência.

Percurso metodológico e resultados encontrados

Foi desenvolvida pesquisa qualitativa descritiva, por meio da pesquisa bibliográfica e de campo. A investigação ocorreu nas escolas municipais e estaduais da cidade de Jataí-Goiás. O critério inicial de seleção dessas escolas foi de ter alunos com necessidades educativas especiais matriculados no ano letivo de 2016, os sujeitos foram os professores de Educação Física de ambas as redes de ensino e o instrumento de pesquisa utilizado foi a entrevista semiestruturada.

Foram feitas visitas à Subsecretaria Regional de Educação e à Secretaria Municipal de Educação (SME) para obter as listas dos nomes dos professores de Educação Física que trabalham nas escolas estaduais e municipais. Com as duas listas em mãos, foi feito o contato com cada um dos professores de Educação Física por meio de telefonemas para saber, inicialmente, se tinham alunos com necessidades educativas especiais em suas turmas e se trabalhavam com o conteúdo de dança.

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Em Jataí, no ano de 2016, estavam em funcionamento 48 escolas municipais e estaduais regulares, sendo 34 municipais, excluindo-se os Centros Municipais de Educação Infantil (Cmei) e Centros de Educação Infantil (CEI), e 14 estaduais. Nessas redes de ensino trabalhavam 39 professores de Educação Física, sendo 20 vinculados ao Estado e 19 ao município. Destes 39 professores, foram selecionados 16 que, conforme informações de seu órgão empregador, tinham alunos com necessidades educativas especiais em suas aulas e trabalhavam com o conteúdo de dança nas aulas de Educação Física. Mas do total de 16 houve retorno positivo de apenas 9 sujeitos, sendo 5 do sexo masculino e 4 do sexo feminino. Destes, 5 trabalham nas escolas municipais, 3 nas escolas estaduais e 1 em escolas de ambas as redes de ensino. Conforme exposto, esses sujeitos concordaram em contribuir com a pesquisa, foram selecionados por trabalharem com o conteúdo de dança em suas aulas de Educação Física escolar e por terem alunos com necessidades educativas especiais necessidades educativas especiais em suas turmas. Para garantir o anonimato das pessoas envolvidas na pesquisa, utilizou-se nomes fictícios, por meio de letras do alfabeto, de A a I.

A análise dos dados se deu por meio da transcrição das entrevistas e da análise do conteúdo das respostas dadas pelos sujeitos. Foi possível identificar, a partir da realidade investigada, três categorias de análise, expostas a seguir.

Concepções de inclusão e o entendimento do professor de Educação Física sobre o assunto

A primeira categoria que emergiu dos dados coletados aborda as concepções de inclusão que o professor de Educação Física tem e seu entendimento sobre o assunto.

Foi possível perceber que os professores ainda se sentem muito despreparados para trabalhar com alunos inclusivos. Os dados demonstraram que os 9 sujeitos entrevistados compreendem o quanto é importante a inclusão no ensino regular, mas também expuseram que isso vem sendo complicado de ser executado de forma adequada e que auxilie efetivamente no ensino e aprendizagem dos alunos.

Os 9 professores entrevistados, ao abordar o conceito ou a concepção de inclusão, utilizaram-se de opiniões populares para responder à pergunta, e não se embasaram em autores ou referenciais teóricos que fundamentassem suas respostas. No entanto, percebe-se que mesmo com respostas do senso comum, os professores conseguiram seguir a linha de raciocínio que a inclusão enfoca.

Os docentes vivenciam uma realidade diferente do que muitos pensam, pois os professores de Educação Física, assim como os das outras áreas, precisam de um suporte maior durante suas aulas, mas isso parece não se concretizar.

Percebe-se nos relatos dos sujeitos que o auxílio poderia ser um pouco maior, mas que não acontece de forma adequada, esse auxílio não consiste somente em ter o professor de apoio junto, mas que esse profissional possa dar suporte para o professor de turma no lidar com os alunos que têm necessidades educativas especiais e também tentar fazer com que os outros alunos compreendam que o processo de aprendizado do seu colega é diferente. Paulon, Freitas e Pinho (2005) destacam a importância de uma equipe interdisciplinar que viabilize o trabalho educativo envolvendo vários campos do conhecimento, mas afirmam que esta equipe de apoio pedagógico geralmente entra em ação apenas quando o professor já tentou várias alternativas e não obteve sucesso. Pode-se depreender que este tipo de apoio é utilizado como socorro, em caráter emergencial, e não como apoio contínuo durante a prática docente.

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Ao serem questionados sobre a inclusão de alunos com necessidades educativas especiais no ensino regular, todos os professores entrevistados afirmaram que a inclusão nos dias atuais é um programa muito interessante no papel, mas que na prática existem muitas dificuldades em desenvolver o ensino-aprendizagem, isso não somente dos alunos inclusivos, pois mesmo que os outros alunos não tenham nenhuma necessidade educativa especial eles possuem suas dificuldades de aprender alguns conteúdos e que os professores não conseguem atender e trabalhar individualmente com cada indivíduo e suas limitações.

Vale destacar que em nenhum momento os professores colocaram que a inclusão não é importante para os alunos e para seu conhecimento pessoal, apenas comentaram que há uma grande dificuldade de se executar essa prática dentro da escola, pois a inclusão não pode partir somente da perspectiva de inserir esses alunos dentro das escolas regulares, mas sim receber um aluno inclusivo e ter o suporte necessário para ajudá-lo.

No entanto, os professores afirmaram que, na maior parte das vezes, a escola não tem esse apoio adequado (sujeitos C, D e E). O sujeito C relatou que o auxílio da escola é somente “repassar algum curso que aparece para gente fazer alguma coisa, mas nada que seja diretamente. Às vezes eles passam alguma atividade, alguma coisa para fazer, mas não mostram como fazer”. Já os sujeitos D e E expuseram que a presença do professor de apoio está restrita à observação do aluno dentro de sala de aula, e na socialização necessária desse aluno com os demais colegas, mas que a qualificação tem que partir tanto do professor que ministra a aula quanto do professor de apoio. “A escola pública não está preparada para receber esses alunos com inclusão, porque é necessário que haja cursos para os professores” (sujeito D). “Acho muito importante, porém considero um sistema falho ainda. Pois como falei anteriormente, os alunos são inclusivos, eles aceitam os alunos, mas não tem professor de apoio, então não tem o apoio que precisaria na escola” (sujeito E). Sendo assim, na opinião desses professores, a formação teria que ser intensificada, ou pelo menos ter uma capacitação mais adequada para que se possa chegar às melhores metodologias de se trabalhar com os alunos inclusivos e que não acarretem a exclusão dos demais alunos da turma.

Percebe-se, por meio da opinião dos professores, que a realidade vivenciada no seu cotidiano é bem diferente do que se vê na teoria, pois a inclusão pode ser interessante, desde que ocorra de forma adequada, porque colocar o aluno no ensino regular simplesmente para fazer parte deste contexto não contribui para a sua formação.

Os professores A e I também colocaram que a inclusão é adequada com alunos que não tenham necessidades educativas especiais severas, pois os alunos que apresentam situação mais grave precisam de mais atenção ainda, e não há como dar essa atenção com turmas grandes, geralmente de 25 a 30 alunos na mesma sala. Eles consideram mais difícil trabalhar com alunos com deficiências motoras, por exemplo, e colocam que para os alunos que não têm deficiência motora é mais fácil de se planejar uma aula em que não exclua seus outros alunos. Um professor relatou um pouco de sua dificuldade em se trabalhar com esses alunos com necessidades educativas especiais mais severas.

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As respostas dadas pelos sujeitos entrevistados não diferem do que já vem sendo publicado sobre a inclusão. De acordo com Fumegalli (2012), a escola tradicional não tem conseguido atender às demandas de uma educação aberta às diferenças.

Esta afirmação coincide com as respostas dos sujeitos, e pode-se perceber, por meio dos relatos, que a inclusão é proposta, mas não está sendo bem trabalhada, pois a seleção dentro da escola ainda existe e a falta de condições físicas, materiais e de recursos humanos qualificados é grande.

Concepções sobre dança e a importância desse conteúdo na formação dos alunos

A segunda categoria contemplou as concepções que os professores de Educação Física têm sobre a dança e a opinião deles sobre a importância desse conteúdo na formação dos alunos.

Os professores B, C e D comentaram que acham importante de se trabalhar este conteúdo com os alunos, e especialmente os sujeitos do sexo masculino (C e D) destacaram que apesar de não terem afinidade com o conteúdo de dança eles continuam sabendo que este conteúdo é ótimo no ensino-aprendizado dos alunos.

Cinco dos sujeitos (A, C, E, H, I) relataram que a dança ajuda na expressão corporal e na socialização, mas também transmitiram suas dificuldades em se trabalhar com esse conteúdo.

Foi possível identificar que os professores não trabalham a dança diretamente, às vezes executam algumas atividades cantadas e que utilizem ritmos musicais, e às vezes passam por conteúdos que tenham algum conhecimento básico. O estilo musical que o sujeito A diz usar é o forró, e como essa modalidade tem um pouco mais de contato físico com o próximo, ele diz usar esse estilo musical para que os alunos também compreendam o contato que eles precisam ter com o outro colega, e com isso os alunos vão tendo a consciência de respeito pelo próximo e eles ficam mais humanos nas relações com as outras pessoas.

Pedrosa e Tavares (2009) afirmam que a expressão corporal ajuda muito para que os alunos não fiquem retraídos e que consigam aprender e compreender melhor os movimentos que seu corpo pode fazer.

Outro ponto que é bem destacado na maioria das entrevistas é quanto ao grau de necessidades educativas especiais desses alunos inclusivos, que interfere na sua participação nas aulas de dança. Alguns professores (A, D, F, H) consideram um desafio muito grande trabalhar esse conteúdo com alunos que têm necessidades educativas especiais, e colocaram que depende muito do grau de deficiência para que essa inclusão seja mais tranquila.

Foi bastante destacado que a dança é um componente muito importante para a aprendizagem dos alunos, mas que se esse aluno tem uma necessidade educativa especial severa é mais complicado de ser trabalhada fisicamente.

Pode-se identificar, por meio da resposta do entrevistado D, que as dificuldades existem, e que os professores não se consideram aptos para trabalhar este conteúdo específico de dança, muito menos com alunos que têm necessidades educativas especiais, mas reconhecem o valor significativo que este conteúdo tem na vida do aluno que tem necessidades educativas especiais, assim como para o aluno que não tem, mas que a dificuldade ainda fala mais alto, especialmente no que se refere às metodologias adotadas, que muitas vezes são falhas.

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A dança é um conteúdo considerado complexo e difícil perante os olhos de quase todos os entrevistados, mas é considerado um conteúdo que auxilia na timidez dos alunos, em querer ajudar o próximo e também em fazer os alunos sem necessidades educativas especiais entender qual a dificuldade que seu colega tem em apreender e compreender de acordo com seu tempo de aprendizado. Portanto, por meio das respostas dos sujeitos, percebe-se a dificuldade encontrada em utilizar metodologias para trabalhar o conteúdo de dança com os alunos, principalmente quando se tem algum com deficiência na turma. De acordo com Sousa, Hunger e Caramaschi (2010),

ultimamente, discute-se muito o ensino da Dança na Escola. Entretanto, ainda não se vê a inclusão e a aplicação eficaz da Dança no âmbito escolar, principalmente pelos professores de Educação Física, que poderiam explorar este conteúdo privilegiando todos os aspectos do desenvolvimento humano. Observa-se uma falta de comprometimento da maioria desses profissionais, relegando o trabalho com a Dança na Escola somente a festas comemorativas e à mercê dos alunos que têm mais facilidade para copiar ou montar coreografias, sem qualquer estudo mais aprofundando sobre o estilo de Dança escolhido, prejudicando de maneira substancial o entendimento, a aplicação e a finalidade da Dança na Escola (p. 1).

Independente de o professor ter afinidade ou dificuldade para trabalhar com a dança nas aulas de Educação Física, seria interessante, a exemplo do relato do professor H, buscar outras metodologias para trabalhar esse conteúdo, como por exemplo, apresentar vídeos dos vários ritmos que a dança possui, trazer um profissional que compreenda melhor da prática e que possa executar algumas coreografias e explicar como criar diferentes movimentos, ou mesmo conversar com os alunos para ver se algum deles tem afinidade com algum ritmo que possa demostrar, e, se acaso tiver, fazer com que o aluno traga um pouco da teoria do ritmo com o qual tem maior afinidade. Enfim, é importante que o olhar do professor seja mais amplo, buscando outras metodologias alternativas que superem suas dificuldades e limitações.

Dificuldades encontradas para trabalhar com alunos inclusivos

A terceira categoria expõe as dificuldades encontradas pelos professores de Educação Física ao trabalhar com alunos inclusivos. Durante a coleta de dados questionamos os sujeitos sobre sua formação, se tiveram disciplinas que deram subsídios teóricos para se trabalhar com a inclusão. Os professores A, B, C e D disseram que já se formaram há um tempo, e colocam que a grade curricular da faculdade sofreu algumas alterações benéficas, pois no tempo em que cursaram Educação Física não tiveram a disciplina específica, que se chama Educação Física Adaptada nos cursos ofertados pela Universidade Federal de Goiás, Regional Jataí, local em que a maior parte dos professores se formou.

Fica evidente, no relato do sujeito D, que a falta dessa disciplina no tempo de graduação de certo modo trouxe dificuldades para suas práticas, e os professores tiveram que procurar outras formas de qualificação para aprender a trabalhar com esses alunos e com o conteúdo de dança.

Os professores E, F, G, H, e I se formaram depois que a grade curricular mudou, e colocaram que a disciplina é bastante importante e interessante para sua formação, mas que teria que ter maior duração, pois ela é trabalhada apenas em um semestre, assim como a disciplina que trabalha com o conteúdo de dança.

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Entende-se que essa disciplina durante a graduação contribuiu com a formação dos professores, mas é uma disciplina introdutória, e o professor tem que ter o interesse, tempo e oportunidade para buscar uma formação continuada que auxilie no lidar com esses alunos.

Foi perguntado aos professores entrevistados se durante as aulas de Educação Física eles recebem algum apoio ou auxílio da escola para lidar com os alunos com necessidades educativas especiais e a grande maioria destacou que o único auxílio recebido é do professor de apoio, mas que isso não acontece de forma adequada, pois muitos professores de apoio não gostam de estar presentes nas aulas de Educação Física, por terem que executar os movimentos juntamente com o aluno.

Durante os relatos das experiências negativas e positivas de se trabalhar com o conteúdo de dança, foi possível constatar uma resistência muito grande em relação a esse conteúdo, por parte dos professores, especialmente de C, D, E e F. Isso permite refletir sobre o fato de que a dança ainda tem seus preconceitos e preceitos impostos, e que os professores preferem ficar no comodismo dos conteúdos populares da Educação Física do que tentar coisas novas.

Outro ponto importante a se destacar é que a maioria dos professores (A, B, C, D, H, I) não buscou fazer nenhum tipo de qualificação na área de Educação Física adaptada depois de suas graduações. Os sujeitos A e F relataram que não pensam em fazer porque não têm interesse em trabalhar com esses alunos. B e C colocaram que fazem apenas o curso de Língua Brasileira de Sinais (Libras). Isso permite refletir sobre como eles estão executando suas metodologias de aulas inclusivas. Os docentes E e I relataram que buscam conhecer seu aluno com necessidades educativas especiais e entender suas limitações, isso é um método interessante, mas essa ação deve estar aliada com estudos mais aprofundados das diferentes necessidades educativas especiais.

Alguns entrevistados (A, B, D, E, H e I) citaram a insegurança e as dificuldades da estrutura física das escolas que também não auxilia o trabalho com esses alunos com necessidades educativas especiais, e mencionaram que a dificuldade começa durante sua formação mesmo. Alguns relataram a falta de uma disciplina específica e outros disseram que quando teve a disciplina foi um aprendizado muito superficial e que isso faz com que eles fiquem estagnados com o aprendizado teoricamente adquirido durante a graduação. Foi citada, ainda, a falta de interesse em buscar especializações especificadas para subsidiar o trabalho com os alunos com necessidades educativas especiais.

É sabido que o período vivenciado dentro da universidade é restrito, limitado, e precisa contemplar múltiplos conteúdos, o que requer o interesse e dedicação do graduando no sentido de se especializar e buscar outros subsídios para conseguir se inserir no mundo do trabalho. Dificuldades existem quando os professores se deparam com a prática. Essa realidade encontrada na pesquisa de campo se aproxima da descrita por Silva (2011, p. 20): “sabe-se que existem muitos fatores necessários para que a inclusão aconteça na íntegra, para tanto é necessário que a escola repense a sua prática, reflita sobre o seu desempenho, reformule sua metodologia com constante reflexão sobre e na ação pedagógica”.

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De um modo geral, os sujeitos colocam o quanto a inclusão e o conteúdo de dança são importantes dentro da escola, mas não se sentem preparados para trabalharem com esse público. Então, o indicado seria buscar se qualificar para atender melhor a esses alunos. Foram citadas a falta de cursos de qualificação na cidade (sujeitos D e G) e a falta de tempo de saírem da cidade para realizar esse tipo de curso (sujeitos A, C, D e G).

Conclui-se que a inclusão não vem sendo trabalhada como deveria, e que a maior parte dos entrevistados não investe em sua formação continuada para tentar melhor entender as limitações de seus alunos. A dança ainda é um conteúdo considerado complicado, por parte de alguns professores, para ser desenvolvida com os alunos das turmas inclusivas. Por outro lado, embora seja minoria, há entrevistados que expõem que o conteúdo de dança é de fácil aplicação, e que a inclusão é um desafio, mas que existem os meios de se trabalhar com essas turmas heterogêneas.

Considerações Finais

A metodologia desenvolvida nesta pesquisa permitiu visualizar resultados semelhantes a trabalhos anteriores e com isso analisa-se que as mudanças necessárias para um ensino-aprendizado melhor para esses alunos ainda está somente na teoria. Durante a análise de dados percebeu-se de forma recorrente essa opinião dos sujeitos entrevistados: a inclusão não está sendo trabalhada adequadamente. Diante disso, os resultados da pesquisa demonstram a importância da dança e da inclusão dentro das escolas, que embora seja necessária, ainda está longe de ser a ideal, e que na maior parte das vezes ela não se torna eficaz.

Alguns professores descreveram que se formaram e se sentiram despreparados para trabalhar o conteúdo da disciplina em turmas inclusivas e relataram que as disciplinas específicas vistas durante a graduação são trabalhadas rapidamente e superficialmente, portanto, deveriam ser mais estudadas. Os sujeitos mencionaram também que o tempo de práticas durante a graduação teria que ser maior para que pudessem compreender melhor como se trabalhar o conteúdo juntamente com os alunos.

Os professores que têm mais interesse ou curiosidade procuram outros tipos de informação ou especializações para aprender a lidar diretamente com os alunos inclusivos, e compreenderem um pouco melhor as metodologias que podem ser usadas com esses alunos específicos, lembrando que não pode haver a exclusão dos demais alunos não inclusivos.

Espera-se que os resultados encontrados sirvam de alerta aos docentes que trabalham com alunos inclusivos na rede regular de ensino, sobre o quanto é necessário ter um olhar especial para esses alunos, e para que esse olhar seja desenvolvido da melhor forma possível, o professor deve ter a consciência de que precisa buscar a educação continuada.

Sobre as autoras

Lázara Thaisa Gonçalves de Oliveira é licenciada em Educação Física pela Universidade Federal de Goiás (UFG), Regional Jataí, foi bolsista do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid) durante dois anos. Interesse de estudo e pesquisa: Educação Física Escolar.

Renata Machado de Assis é licenciada em Educação Física pela Escola Superior de Educação Física de Goiás (Esefego) e bacharel em Serviço Social pela Universidade Católica de Goiás (UCG), especialista em Educação Física Escolar pela Universidade Salgado de Oliveira (Universo), mestre em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (PPGE/UFMG) e doutora em Educação pelo Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de Goiás (PPGE/UFG). Docente dos cursos de licenciatura e bacharelado em Educação Física e do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Goiás (UFG), Regional Jataí. Tem experiência na área de educação, com ênfase na educação básica e em formação inicial e prática docente, atuando principalmente com os seguintes temas: educação física, educação básica, políticas educacionais, estágio e formação de professores, inclusão, ensino superior e práticas corporais.

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