Se Inclui Formação docente para inclusão e acessibilidade

Neurodiversidade

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O termo neurodiversidade foi cunhado pela socióloga australiana e portadora da síndrome de Asperger, Judy Singer, em 1999, em um texto com o sugestivo título de Por que você não pode ser normal uma vez na sua vida? De um “problema sem nome” para a emergência de uma nova categoria de diferença (SINGER, 1999). Mas o que é a neurodiversidade, quem são os indivíduos que se referem a esse termo como critério de identificação? (ORTEGA, 2008).

O movimento que apresenta o termo neurodiversidade tem como objetivo demonstrar que todos nós temos funcionamentos neurológicos distintos. O movimento das pessoas com Asperger busca tirar o foco da cura, pois o autismo não é uma doença e sim uma forma distinta de funcionamento neurológico. Tomando carona com esse movimento muito válido e inteligente, abordamos nesse capítulo outros grupos de alunos que também possuem funcionamento neurológico diferenciado.

O objetivo desse capítulo é colaborar para a Formação de Professores para Inclusão apresentando diferentes formas de funcionamento intelectual e neurológico, considerando as pessoas com deficiência intelectual, as pessoas com transtorno do espectro autista e, inclusive, com altas habilidades, e as adaptações pedagógicas, informacionais, comunicacionais e atitudinais coerentes.

Apresentaremos aqui aspectos sobre a inclusão e permanência de alunos com neurodiversidade e a opinião desses alunos sobre sua caminhada acadêmica e do que eles acreditam que os professores deveriam saber sobre sua forma de “aprendizagem” no mundo acadêmico. Discutiremos muito brevemente o que é autismo, síndrome de Asperger, deficiência intelectual e altas habilidades, e discutiremos formas de adaptações comunicacionais, pedagógicas, informacionais, e atitudinais coerentes com a neurodiversidade.

Quando falamos de neurodiversidade temos que pensar sempre que tratamos de pessoas diferentes entre si apesar de fazerem parte de grupos específicos. O que os torna um grupo é que apresentam algumas características parecidas, mas é fundamental entender que o contexto social e histórico dessas pessoas faz toda diferença nas suas capacidades e funções neurológicas. Trataremos aqui sempre do respeito à diferença, mas sem negar que tem algumas características que têm uma probabilidade maior de se apresentar nas pessoas que fazem parte desses grupos.

Iniciaremos com o depoimento da aluna SA/A que fez o diagnóstico da Síndrome de Asperger enquanto já estudava na instituição e que fala da diversidade de características das pessoas com Asperger, entre muitos outros elementos da sua vivência na universidade:

As características específicas de cada indivíduo pode não constituir uma regra que sirva a todos, mas compreender as necessidades específicas de cada aluno não é algo que deve ser restrito a um grupo. Os professores devem procurar sempre compreender as necessidades de todos os alunos, o que pode ser alcançado com diálogo, não só em grupo, mas, também, diálogo em particular com cada um. Na minha opinião, para quem tem Asperger, a questão social pesa bastante. Trabalhos em grupo ou apresentações em público podem ser um problema para alguns, assim como as famosas apresentações pessoais dos primeiros dias, quando cada um precisa falar um pouco de si mesmo para a turma. Algumas tentativas de integração dos alunos tem efeito contrário, pois ao forçarem uma interação elas acabam criando (em quem é mais introspectivo) uma fuga e uma introspecção maior. Quando os colegas não gostam de nossa companhia, por exemplo, é muito ruim ver eles se sentindo obrigados a nos incluírem nos trabalhos. Não que isso seja uma regra, que se aplique a todos os aspergers. Eu já tive dificuldade de compreender uma professora por ela falar muito rápido e monotonamente, como quem lê um texto ou fala um texto decorado. Era tão rápido e com tanta desmotivação que eu não tinha tempo de assimilar, minha atenção não conseguia fixar na fala dela. Também já notei que gosto quando as explicações são mais simples e diretas ao ponto. Mesmo quando se necessita de muitos floreios e rodeios e enfeites no que será explicado (como muito acontece nas ciências humanas), acredito que primeiro deveriam dar uma explicação simples e resumida, que fosse direto ao ponto e só depois irem explicando minuciosamente e com todos os rodeios que gostam de fazer. Não gosto de aula com slide. Nem que o professor gaste mais tempo escrevendo no quadro do que explicando o que deve ser ensinado. (Aluna SA/A).

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As pessoas com autismo e síndrome de Asperger possuem algum grau de problemas com a linguagem; problemas na interação social; e problemas no repertório de comportamentos (restrito e repetitivo), podendo apresentar hiper ou hiposensibilidade de algum dos sentidos (sabia mais no site da Associação Brasileira de Autismo).

No entanto, repetimos que essas características se apresentam de forma diferente em cada pessoa, inclusive uma das alunas entrevistadas (Aluna SA/A) mostrou preocupação com esse material de formação com o seguinte relato:

Dependendo de como fosse, o material poderia atrapalhar, caso coloque algumas características como regra e diante do professor surja um aluno que não possui alguma daquelas características e que acabaria sendo tratado como alguém que possui, por exemplo. Mas é sempre bom que haja um reconhecimento e compreensão desse grupo (assim como de qualquer outro).

Entendemos a preocupação da aluna e achamos muito valiosa, e assim tentaremos tomar o máximo cuidado para não generalizar.

Nos últimos dois anos, temos verificado um aumento significativo no número de alunos com síndrome de Asperger na universidade, pode ser também que eles já estivessem na universidade, mas não foram identificados. Temos verificado que os núcleos de acessibilidade têm aprendido muito com esses alunos que, em sua maioria, se apresentam muito inteligentes, críticos e que vibram com boas práticas como professores sensíveis, pontualidade, aulas criativas e não monótonas, entre outros fatores que trazem qualidade para o ensino em qualquer instituição.

Os métodos de avaliação dos professores do ensino médio e superior são frequentemente questionados pelos alunos com e sem deficiência. O aluno SA/B faz críticas às formas de avaliação dos seus professores, que demonstra um pouco do que falamos no parágrafo anterior sobre críticas inteligentes e construtivas, diz ele:

Acredito que falta aos professores uma necessidade de ‘desengessar’ daquilo que eles tratam como transmissão do conhecimento. Nem sempre o método que um professor utiliza para averiguar o conhecimento do aluno em relação ao aprendizado é adequado. Tentar discutir isso com eles é, em grande parte, uma perda de tempo absurda. Até mesmo no curso de Psicologia, onde “pensar fora da caixa” é algo em que a técnica exige. Os professores, entretanto, se mostram inaptos a realizarem isso. Sufocando o aluno dentro daquela única maneira de obter a nota adequada. Já sofri bastante por professores cujo único modo de obter a nota e mostrar o conhecimento é através de apresentações expositivas. E ainda superando isso, o aluno é obrigado a reproduzir aquilo que ele espera. Se eu chego de outra forma, porém no mesmo objetivo, sou taxado como burro, preguiçoso, que não compreendi direito, como se houvesse apenas uma verdade absolutano mundo. Porém, tenho uma experiência positiva em relação a isso para contar. Um dos professores do curso programou a avaliação do semestre como um trabalho exposivo de pesquisa, que deveria ser feito com o público.

Compreendi o objetivo, porém, decidi ultrapassar os limites do que foi pedido. A pesquisa foi realizada em um espectro que eu acreditava ser relevante e importante dentro do conteúdo, algo que não tinha sido ministrado em aula nem continha nos livros. Porém, diferente dos outros professores, esta professora simplesmente amou o fato de eu ter relacionado aquilo que foi ministrado com algo que não tinha sido colocado antes. Tendo uma conversa bem interessante com esta professora, e questionando o fato de isso talvez não ter sido “errado” por ter sido diferente do trabalho de todos (que simplesmente haviam ‘reproduzido’ o que foi pedido), ela disse que não, pois na visão dela, eu fui o único que se preocupou em aplicar a teoria em algo diferente. Que este era o nível de uma pesquisa da pós graduação. Certamente, ter um professor consciente de que o aluno sempre pode considerar coisas de outro ângulo é algo interessante. Há momentos que o aluno erra, não contesto isso. Mas determinar que algo é errado só porque este professor aprendeu de maneira X, mas o aluno não reproduziu da mesma forma, acredito que não é uma atitude adequada.

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Diversos alunos com autismo e síndrome de Asperger reclamam do excesso de apresentações proposta pelos professores, esses alunos relatam o sofrimento que é apresentar o conhecimento em público. Uma das possíveis características da pessoa com autismo e Asperger é a hipersensibilidade auditiva e visual que pode em caso de grande exposição os estímulos visuais e auditivos dificultar a concentração. Considerando também a dificuldade de comunicação e interação social.

A aluna SA/A elogia a forma como as avaliações são realizadas no curso dela: A objetividade e clareza das questões ajudam na compreensão até de uma pessoa neurotípica. No meu curso, muitas avaliações são feitas através de uma, duas ou três perguntas diretas, para serem respondidas através de um único texto. Gosto muito desse formato, porque gosto de fazer textos e conectar as ideias dessa forma. Também gosto muito quando as questões são mais diretas, objetivas e claras. É importante que não deem margem para ambiguidade, como muitas vezes acontecem nas questões do Enem, exatamente por serem muito prolixas. (Aluna SA/A).

Dos três alunos com síndrome de Asperger que entrevistamos para esse material, verificamos que dois relatam que os professores não sabem de sua condição e apenas um diz que somente três dos seus professores souberam por que ele contou. Esse fato nos faz refletir que a síndrome de Asperger não é tão fácil de ser visualizada.

No entanto, no relato de alguns alunos com Asperger e autismo no Núcleo de Acessibilidade verificamos que relatam que os alunos e professores notam que são mais tímidos, que evitam falar e já tivemos depoimentos tristes em que os colegas, por achar o aluno com Asperger diferente, perguntaram se ele não iria entrar na classe armado e matar a todos. Lógico que o aluno nos contou esse fato muito triste e chateado, pois a situação mostrou o quanto a sociedade é despreparada e preconceituosa ao conviver com uma pessoa neurotípica.

Muitas vezes, a pessoa com Asperger tem dificuldade em procurar e conversar com o professor em público. Por isso, é importante que o professor esteja disponível em sua sala ou laboratório fora da aula para que esses alunos possam ter privacidade para falar com eles. A aluna SA/C relata “Eu tenho dificuldade para me comunicar com eles em público, na frente dos outros alunos. Prefiro falar com eles em particular, com um de cada vez, sem outras pessoas ouvindo”. É importante que o professor seja perceptivo, pois nem sempre esses alunos chegam ao nível superior com diagnóstico, por não apresentarem déficit intelectual muitos são tratados como pessoas tímidas e cheias de manias. Em grande parte, as limitações referem-se à comunicação, convenções e interações sociais. Grande parte deles não sabe o porquê de suas dificuldades, sem o esclarecimento sobre o comportamento, limitações e “manias”, só sofrem sem saberem o porquê ao certo.

As altas habilidades ou superdotação é apontada na Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2008) e em muitos outros documentos como uma questão da Educação Especial, no entanto, é visível o despreparo dos professores de todos os níveis de ensino para atender a esses alunos. Nas universidades e institutos esse é um grupo que vem sendo cada vez mais presente, mas ainda faltam políticas e encaminhamentos que atendam suas especificidades.

O aluno AH/A, que tem altas habilidades, diz: “Que é um grupo com características diferentes do padrão: podem ter desempenho excelente, além de grande controle emocional e de estresse, mas desde que adequadamente manejados e estimulados”. O aluno apresenta um relato bem interessante e formativo que diz de suas experiencias:

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Frequentei salas para suportes de altas habilidades desde os meus 6 anos de idade, e, em todas elas, nunca tive uma aula tradicional, mas sempre tive um tutor que me incentivava e orientava nos projetos, o que me permitiu crescer em minha criatividade, capacidade de pesquisa, curiosidade e senso crítico; hoje, vejo que o ensino na universidade é estagnado, provavelmente não por causa de falta de atuação de órgãos como a PROGRAD, mas por causa da formação desses professores, que acreditam que a figura do professor ainda é central; vejo, na minha unidade acadêmica (Faculdade de Medicina) algumas tentativas de mudanças curriculares que tentam reorientar para metodologia ativa (na minha opinião, ainda falhas – como eu disse, os próprios professores não têm conseguido crescer), então, acho que deve-se estimular isso não apenas para alunos com altas habilidades, mas para os alunos em geral.

Outro grupo que tem chegado cada vez mais ao ensino médio e à universidade são as pessoas com deficiência intelectual. Acreditamos que esse fato tem acontecido pelo avanço da legislação e do direito dessas pessoas ao ensino regular inclusivo, com atendimento educacional especializado. Sabemos que o processo de inclusão no Brasil ainda está tímido e engatinhando, mas muito já se avançou a esse respeito.

Quando se fala em pessoa com deficiência intelectual temos que pensar que essas pessoas, como todas as demais, podem ter maior empatia e facilidade em aprender alguns conteúdos acadêmicos. Como professores, temos que saber que essas pessoas possuem deficiências intelectuais que podem ser superadas com estudo e atendimento adequado.

A Lei 13146/15 garante à pessoa com deficiência, formatos acessíveis de avaliação e tempo ampliado para realização de provas e trabalhos, e, ainda, aumento de tempo de integralização do curso de acordo com necessidade do aluno (BRASIL, 2015, Artigo 30, Inciso V). Esses direitos são fundamentais para a permanência e sucesso do aluno com deficiência intelectual. O tempo adicional nas provas é fundamental para o aluno, pois permite que leia as questões com maior calma e possa refletir sobre as respostas com mais tempo. Os alunos com deficiência intelectual tem que estudar mais que os demais para obter o mesmo rendimento, assim a realização dos trabalhos com maior tempo são muito pertinentes.

O tempo de integralização de curso ampliado conforme demanda apresentada pelo candidato com deficiência, mediante prévia solicitação e comprovação da necessidade (como diz a lei), propicia que o aluno faça menos matérias por semestre. Esse direito torna cursos, que normalmente as pessoas com deficiência não conseguiriam fazer, possível. Com duas ou três disciplinas por semestre, é possível estudar mais para cada disciplina e atingir o rendimento esperado para todos os alunos.

Independente das características do aluno neurodiverso, é fundamental dizer que o direito a educação inclusiva não significa de forma nenhuma um ensino facilitado e de baixa qualidade. Não esperamos que os conteúdos sejam facilitados e que o aluno obtenha parte da formação. Acreditamos que no tempo adequado para cada aluno e com o atendimento educacional especializado, os alunos que chegam até o ensino médio e ao superior possuem sim condições de concluir seu curso com sucesso e qualidade.

Para que você possa ter uma visão maior sobre algumas características das pessoas com autismo e com deficiência intelectual, separamos três filmes. O primeiro chama-se “Código para o Inferno”, filme de ação em que um agente do FBI combate inescrupulosos agentes federais para proteger um garoto autista de 9 anos, que desvendou um “indecifrável” código secreto. O segundo filme que selecionamos é “Colegas”. É um filme com jovens com síndrome de Down que decidem fugir, vivendo muitas aventuras e confusões e para realizar o sonho individual de cada um. O terceiro filme é sobre uma jovem com deficiência intelectual que volta para a casa dos pais após passar anos em uma escola especial, chama-se “Simples como Amar”. A jovem quer namorar, morar sozinha e ter uma vida independente, mas tem dificuldades por causa da mãe super protetora que a sufoca. O filme “Uma lição de amor” é uma linda estória sobre um pai com deficiência intelectual que ama muito sua filha e que tem que lutar contra uma assistente que quer tirar sua filha. A situação se transforma em uma briga jurídica em que se discute o papel do pai e se pessoas com limitações intelectuais como Sam podem ser responsáveis por crianças.

Outros filmes que deixamos o link para vocês são: “Experimentando a vida” sobre uma mulher com autismo, “ Meu filho, meu mundo” sobre uma mãe de um menino autista e seus caminhos para o desenvolvimento dele e o filme “Menina no país das maravilhas”. Esse último filme é sobre uma menina com síndrome de Teurette que é caracterizada pela presença de tiques motores e vocais. Você encontra todos os links nas indicações finais.

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Conceituações e considerações

Como já dissemos, iremos abordar nesse item algumas das muitas neurodiversidades, sendo elas, o autismo, a síndrome de Asperger, as altas habilidades e a deficiência intelectual.

O Transtorno do Espectro Autista é uma síndrome clínica caracterizada nas seguintes formas, a saber:

A Síndrome de Asperger é uma perturbação do espetro do autismo, que se manifesta, sobretudo, por alterações na interação social, na comunicação e no comportamento. É uma perturbação neurocomportamental de base genética. Embora seja uma disfunção com origem num funcionamento cerebral particular, não existe marcador biológico, pelo que o diagnóstico se baseia num conjunto de critérios comportamentais. (https://www.apsa.org.pt/).

Alunos com Altas Habilidades são considerados aquele com capacidade acima da média na população escolar. A literatura especializada aborda com frequência superdotação e talento como termos com dois pontos em comum: se referem a habilidades e estão acima da média da população. Para o senso comum, a habilidade intelectual é superdotação e a habilidade artística é talento. (Associação Brasileira para Altas Habilidades/Superdotados).

A Deficiência Intelectual é caracterizada pelo funcionamento intelectual (raciocínio, aprendizagem, resolução de problemas) significativamente inferior à média, com manifestação antes dos dezoito anos e limitações associadas a duas ou mais áreas de habilidades e comportamentos adaptativos, tais como: comunicação; cuidado pessoal; habilidades sociais; utilização dos recursos da comunidade; saúde e segurança; habilidades acadêmicas; lazer; e trabalho. (AMERICAN ASSOCIATION ON INTELLECTUAL AND DEVELOPMENTAL DESABILITIES, 2010).

Relação professor aluno

Em pesquisa com os alunos podemos verificar várias percepções que estes possuem sobre como o professor poderia auxiliá-lo no processo ensino-aprendizagem. O aluno com síndrome de Asperger SA/B relata:

Não é porque eu não soube me expressar direito em determinadas condições da sala de aula, que eu não sei, ou que eu vou falhar como um profissional. A agenda universitária está lotada de objetivos desnecessários, o que forma péssimos profissionais, pois o que realmente importa acaba sendo ignorado, e aqueles que estão preocupados com isso podem acabar sendo impedidos pelas coisas desnecessárias. O problema é bem mais embaixo, começa no próprio sentido da universidade, se estende para o currículo do curso, recheado de desnecessidades, com pouca experiência prática real.

Considerando os relatos dos alunos pesquisados, a experiência dos núcleos de acessibilidade da UFG, UEG, IFG e IFGoiano e pesquisas em materiais de formação docente para inclusão de outras instituições, apresentamos a seguir o que chamamos de “Boas práticas”. São ações e adaptações que podem ser feitas por professores de alunos com neurodiversidade que vão proporcionar uma relação mais harmoniosa e favorecer a aprendizagem desses alunos no meio acadêmico.

Dividiremos essas práticas em “Boas práticas socias” e “Boas práticas acadêmicas”. Consideramos as práticas sociais ações que dizem respeito a como se comportar na presença de uma pessoa com neurodiversidade minimizando os preconceitos e favorecendo a comunicação e aprendizagem. Consideramos práticas acadêmicas aquelas ações do professor que podem favorecer o rendimento acadêmico e proporcionar ao aluno as mesmas oportunidades de conhecimento que os demais.

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Boas práticas sociais

Boas práticas acadêmicas

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Depoimentos

Para finalizar, deixaremos a palavra com os alunos com neurodiversidade:

Uma coisa que me afeta muito (também por uma deficiência visual razoável que eu tenho) é o excesso do uso de slides: os professores acabam dedicando menos tempo à demonstração da linha de raciocínio, focando apenas em mostrar o conteúdo. Dessa forma, as aulas ficam terrivelmente tediosas, expositivas e com pouco a acrescentar aos alunos. Outra coisa que me incomoda de forma excessiva (isso é presente em minha unidade acadêmica, pelo menos) é a falta de qualidade de material didático: muitos professores acabam estimulando o uso apenas de slides, guidelines e apostilas, não incentivando o estudo em alguns livros mais antigos (mas clássicos) e nem a pesquisa em artigos científicos (aprender estudando é muito melhor do que apenas assistir aulas); no meu curso, a carga horária é focada apenas em aulas teóricas, tornando quase proibitivo estudar em casa ou na biblioteca (é falho a direção querer estimular metodologias ativas e não dar tempo para estudo). Meus professores já se importam muito com a diversidade, pois ela já é grande na minha faculdade e eles sempre estão falando a respeito desse assunto e parecem compreender e respeitar toda a diversidade existente lá, apesar de não conhecerem absolutamente todos os grupos, querem sempre ajudar. (Aluna SA/A)

Teve uma professora que falava de uma forma que eu nunca compreendia. Falei com ela em particular, pedindo para ela tentar falar mais devagar. Desde então, ela tentou modificar a forma que dava as aulas. O resultado foi que, além de eu ter uma compreensão melhor, dos assuntos abordados, meus outros colegas também conseguiram acompanhar melhor as aulas e elogiaram a melhora da professora. (Aluna SA/C)

Indicação de filmes

Código para o Inferno. Direção: Harold Becker, 1998.

Colegas. Direção: Marcelo Galvão, 2013.

Simples como Amar. Direção: Garry Marshall, 1999.

A Sombra do Piano. Direção: Stefan Scaini, 1995.

Uma lição de amor. Direção: Jessie Nelson, 2002.

Experimentando a vida. Direção: John Duigan, 2000.

Menina no País das Maravilhas. Direção: Daniel Barnz, 2008.

Meu filho, minha vida. Direção: Glenn Jordan, 1979.

Indicação de livros

BRASIL. Formação continuada a distância de professores para o atendimento educacional especializado. SEESP / SEED / MEC Brasília/DF, 2007.

DALLA DÉA, V. H. S.; DUARTE, E. Síndrome de Down: informações, caminhos e histórias de amor. São Paulo: Ed. Phorte, 2009.

SEGAR, Marc. Guia de sobrevivência para portadores da Síndrome de Asperger.

Para finalizar esse livro trazemos parte dos relatos de três professores da Universidade Federal de Goiás, que podem ser vistos na íntegra no link seinclui.ufg.br, e que mostram que com oportunidade e acessibilidade todos as pessoas podem demonstrar suas eficiências.