O objetivo desse capítulo é colaborar para Formação de Professores para Inclusão apresentando algumas diferentes formas de “ver” o mundo que fogem do convencional.. Apresentaremos aqui aspectos sobre inclusão e permanência de alunos com diversidade visual e sua opinião sobre sua caminhada acadêmica e do que eles acreditam que os professores deveriam saber sobre sua forma de “enxergar” o mundo acadêmico e sua forma de aprender. Discutiremos muito brevemente o que é cegueira, baixa visão, visão monocular e daltonismo, e discutiremos formas de adaptações pedagógicas, informacionais, comunicacionais e atitudinais coerentes com a diversidade visual.
Uma aluna com baixa visão e visão monocular de um dos cursos superiores mais disputados de uma das instituições parceiras desse projeto fala sobre o receio de não ser bem interpretada ao procurar o professor para dizer das suas necessidades, segundo ela:
Sinto medo de represálias em coisas como a avaliação dos docentes. Se eu citar coisas relacionadas às minhas deficiências, serei facilmente identificada. E, por fim, sinto medo de ser mais menosprezada, visto que já tentei conversar com docentes sobre o que dá certo e errado (ALUNA A/DV).
Geralmente, o aluno com deficiência prefere o anonimato a falar sobre suas dificuldades. Vive no sofrimento silencioso e não exerce seu direito de ter aulas e materiais didáticos adaptados para sua deficiência para não correr o risco de ser mal-entendido pelo professor. Diante disso, não basta perguntar se está tudo bem, para a maioria nada está bem, porém, devido à timidez, muitos respondem que sim. Neste o caso, cabe o bom senso do professor para reconhecer suas limitações e, frente ao conflito, agir com transparência, perguntando como pode fazer para melhorar a dinâmica, didática e metodologia.
No relato acima, apesar de ser uma aluna muito empoderada que no começo do semestre fala com os professores sobre suas dificuldades e como aprende, a aluna diz do medo de suas reinvindicações não serem bem interpretadas.
Importante lembrar que o Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei 13146/15) diz que “é dever do Estado, da família, da comunidade escolar e da sociedade assegurar educação de qualidade à pessoa com deficiência, colocando-a a salvo de toda forma de violência, negligência e discriminação”. Educação de qualidade para a pessoa com deficiência visual só acontece quando essa recebe material para acompanhar as aulas e para estudos que seja acessível à sua forma de aprender e estudar.
Os professores muitas vezes têm medo e dificuldades de lidar com os alunos com deficiência visual, como toda a sociedade muitas vezes carregam preconceitos e dificuldades de reconhecer o aluno com deficiência como um aluno que pode ser eficiente no ambiente acadêmico. Segundo aluna cega que entrevistamos:
A grande porcentagem dos professores, logo de início, não soube como lidar comigo, creio que por falta de informação. Houve aqueles que ignoravam a situação, e alguns que acreditavam que eu precisasse de alguém da família em sala de aula. A maioria temia que eu não absorveria o mesmo conhecimento e aprendizagem que os demais colegas, julgando que eu não teria um bom desempenho, pois eles associavam a ausência da minha visão com uma possível dificuldade de acompanhamento das aulas. Entretanto, na maioria dos casos, as questões foram resolvidas a partir de diálogos entre a coordenação, os professores e eu. Cabe à coordenação pedagógica informar aos professores que o primeiro passo a ser dado é que os mesmos conversem com o próprio aluno, para que juntos cheguem a uma conclusão de como deverão trabalhar ao longo do semestre. Todavia, caso seja mais viável, que ele procure informações com aqueles que já ministraram aulas para mim.Página 19
Outra aluna relata que é importante que os professores entendam que o aluno com deficiência visual possui “capacidade de interpretar o mundo a partir da audição” (ALUNA B/DV). Toda informação que não for possível de se passar visualmente para esses alunos deve ser traduzida de forma auditiva por descrição criteriosa.
A importância do dado visual é destacada também por uma aluna cega de um curso de licenciatura que diz:
Temos as mesmas competências que qualquer outro aluno. Teremos um bom desempenho desde que os conteúdos e materiais sejam acessíveis, que temos dificuldades com linguagens não verbais, que tudo pode ser entendido desde que seja oralizado e que não é necessário alterar a voz e os áudios para melhorar nossa compreensão (ALUNA C/DV).
A aluna A/DV relata ainda que nas “exatas se utiliza muitos conceitos puramente visuais que são MUITO difíceis de transmitir para PcDs visuais”. Ela diz da necessidade de se “fazer gráficos em materiais ADAPTADOS”. Infelizmente não é apenas nas exatas que a adaptação de materiais ocorre com pouca frequência, nas áreas de biológicas e humanas também é assim.
Além dos estímulos auditivos, os táteis também são importantes aliados na aprendizagem da pessoa com deficiência visual. Gráficos ou desenhos feitos com cola 3D, com o uso do barbante para delimitar os contornos/limites/formas, desenhados sobre tela quadriculada (como a que retém insetos em janelas) ou feita em material maleável como sobre uma folha EVA, ficam com relevo e facilitam a interpretação e entendimento de pessoas com deficiência visual.
Em algumas universidades e institutos é possível encontrar impressora 3D ou máquina difusora que produzem materiais adaptados que favorecem a informação tátil.
Outro aluno com baixa visão (Aluno D/DV) relata que é muito importante que o professor antecipe para o aluno com deficiência visual “tudo que for possível me antecipar”. A aluna A/DV reforça essa solicitação dizendo que a pessoa com deficiência visual demora muito mais tempo para estudar que os demais alunos, por isso ela precisa de mais tempo para fazê-lo com qualidade e para que tenha o mesmo rendimento que os outros. Portando, cópias de textos que serão utilizados nas aulas e nas provas devem ser disponibilizadas no início do semestre para que os alunos ou o laboratório da instituição possam adequar esse material para ser estudado.
Uma forma de sensibilização e de conhecer um pouco mais da realidade das pessoas com deficiência visual é por meio de filmes. Convidamos você para assistir ao filme iraniano “A Cor do Paraíso” para conhecer algumas peculiaridades do cotidiano de uma criança cega. Indicamos também o filme é “Hoje eu quero voltar sozinho” Sobre um garoto cego que chega em colégio do Rio de Janeiro e insere a comunidade escolar na pauta da inclusão. Ele tem que lidar com algumas dificuldades de aceitação pela turma, até que encontra apoio em um estudante recém-chegado, Gabriel, com quem acaba se envolvendo amorosamente. O filme “Castelos de Gelo” que conta a história de uma patinadora adolescente que é campeã mundial e que, no auge da fama, sofre acidente que a deixa cega. Outro filme que indicamos é “Dançando no escuro” que conta a história de uma imigrante tcheca que trabalha em uma usina nos EUA e descobre que está perdendo a visão dia após dia.
Conceituações e considerações
Como já dissemos iremos abordar nesse item algumas das muitas diversidades visuais, sendo elas a cegueira, baixa visão, visão monocular e daltonismo.
A deficiência visual se refere a uma limitação sensorial que, mesmo com a utilização de correções (óculos, cirurgias, etc.), anula ou reduz a capacidade de ver, abrangendo vários graus de campo e acuidade visual, permitindo várias classificações da redução da visão:
Página 20- cegueira: a acuidade visual é igual ou menor que 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica;
- baixa visão: que significa acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica;
- casos específicos: os casos nos quais a somatória da medida do campo visual em ambos os olhos for igual ou menor que 60o; ou a ocorrência simultânea de quaisquer das condições anteriores (BRASIL, 2004, Artigo 5º, Parágrafo 1º, Inciso I, Alínea c).
A visão monocular caracteriza-se pela perda total de visão de um dos olhos. Apesar de muitas vezes as pessoas acreditarem que pessoa com visão monocular não tem grandes dificuldade, isso é totalmente incorreto. A visão monocular diminui significativamente o campo visual e dificulta a visão tridimensional diminuindo a noção de profundidade.
Segundo a Associação Brasileira dos Deficientes de Visão Monocular, as pessoas que possuem essas características têm dificuldades visuais significativamente maiores do que as pessoas que têm visão convencional. No entanto, para muitos, esse fato não é considerado e os direitos as mesmas condições de aprendizagem não lhes é dado.
O daltonismo também chamado de “discromatopsia congênita” é caracterizado por defeitos de visão cromática, é mais comum nos homens, não é considerado deficiência, mas é uma diversidade visual bastante presente no ambiente acadêmico. É importante dizer que as pessoas com daltonismo não enxergam ou deixam de enxergar as cores da mesma forma. A maioria das pessoas com daltonismo tem dificuldade na percepção das cores vermelha e verde, depois são menos numerosas as pessoas que não enxergam o azul e amarelo e mais raro são pessoas que enxergam apenas tons de cinzas.
Relação professor aluno
Em pesquisa com os alunos podemos verificar várias percepções que estes possuem sobre de como o professor poderia auxiliá-los no processo ensino-aprendizagem. A aluna A/DV relata:
A baixa visão me parece ser esquecida pela sociedade como um todo, que acredita que só existem três tipos de visão: aquela perfeita, aquela que “precisa de óculos” e a cegueira. E isso é algo que influencia até mesmo na criação de crianças com baixa visão, dada a dificuldade dos pais de compreenderem a condição de seus filhos. É importante diferenciarmo-nos daqueles que são cegos, porque existem vários graus de baixa visão, com várias particularidades (causas, efeitos). E é fundamental que os docentes estejam preparados para entender a individualidade de cada caso, com que tecnologias assistivas a pessoa teve contato, etc. Por exemplo, não sei braile. E a maioria das pessoas cegas (em um recorte importante, que ficaram cegas após certo tempo de vida, já estavam na adolescência ou no começo da vida adulta) e com baixa visão que conheço também não sabem. Mas todos nós usamos leitores de tela. Eu e meus amigos com baixa visão usamos lupas eletrônicas. Alguns deles preferem provas em fonte 24, outros em fonte 28. É muito importante saber estabelecer as necessidades que o discente tem. A minha visão monocular provém do fato de que um dos meus olhos é cego. Essa condição influencia minha vida de ainda outras maneiras diferentes da baixa visão, e é uma deficiência que só começou a ser reconhecida legalmente há poucos anos. Há muita dificuldade no que tange a tridimensionalidade, noções de profundidade, movimento. E, no meu caso, afeta uma porcentagem enorme de meu campo de visão. Mas, mais uma vez, é necessário o diálogo. Pessoas com deficiências e pessoas que necessitam de ferramentas assistivas são diversas e cada um tem suas particularidades.Página 21
Considerando os relatos dos alunos pesquisados, a experiência dos núcleos de acessibilidade da UFG, UEG, IFG e IFGoiano e pesquisas em materiais de formação docente para inclusão de outras instituições, apresentamos a seguir o que chamamos de “BOAS PRÁTICAS”. São ações e adaptações que podem ser feitas por professores de alunos com deficiência visual, que vão proporcionar uma relação mais harmoniosa e favorecer a aprendizagem desses alunos no meio acadêmico.
Dividiremos essas práticas em “BOAS PRÁTICAS SOCIAIS” e “BOAS PRÁTICAS ACADÊMICAS”. Consideramos as práticas sociais ações que dizem respeito a como se comportar na presença de uma pessoa com deficiência visual, minimizando os preconceitos e favorecendo a comunicação e a locomoção. Consideramos práticas acadêmicas aquelas ações do professor que podem favorecer o rendimento acadêmico e proporcionar ao aluno com deficiência visual as mesmas oportunidades de conhecimento que os demais alunos já têm favorecido pela visão.
Boas práticas sociais
- Quando relacionar-se com pessoas cegas ou com deficiência visual, identifique-se, faça-a perceber que você está falando com ela, tocando-a ou falando próxima.
- Quando relacionar-se com pessoas cegas ou com deficiência visual, identifique-se, faça-a perceber que você está falando com ela, tocando-a ou falando próxima. As pessoas com baixa visão poderão passar por você e não te cumprimentar. Isso acontece não porque são mal-educadas, mas porque não a viu mesmo. Quando isso acontecer chame-a e avise-a da sua presença.
- Sempre que quiser auxiliar uma pessoa com deficiência visual pergunte anteriormente se ela quer ajuda. É comum o relato de pessoas cegas que são pegas pelo braço e atravessadas pela rua à força por pessoas que acreditavam que ela queria fazer isso. Algumas vezes a pessoa com deficiência prefere realizar a atividade de locomoção sozinha, assim é importante perguntar se ela precisa de ajuda sempre.
- Quando a pessoa quiser ajuda pergunte como você deve fazer para ajudá-la. No auxílio na locomoção o mais recomendado é que se ofereça o cotovelo para que a pessoa com deficiência visual o segure e assim te acompanhe.
- Avise antecipadamente a existência de degraus, escadas rolantes, pisos escorregadios, buracos e obstáculos durante o trajeto.
- Para ajudar uma pessoa cega a sentar-se, você deve guiá-la até a cadeira e colocar a mão dela sobre o encosto, informando se esta tem braço ou não. Deixe que a pessoa se sente sozinha.
- Quanto ao cão-guia, ele nunca deve ser distraído do seu dever de guia com afagos, alimentos etc. Lembre-se de que esse cão está trabalhando e tem a responsabilidade de guiar um dono que não enxerga.
- Fique à vontade para usar palavras como “veja” e “olhe”. As pessoas cegas as utilizam com naturalidade.
- Sempre que se afastar, avise a pessoa cega, pois ela pode não perceber a sua saída.
- No primeiro contato do cadêmico cego com o Câmpus, deve ser indicado um servidor para proceder a visita com ele as principais dependências do prédio: sala de aula, biblioteca, banheiros, secretaria e outras, para reconhecimento e construção espacial do Câmpus.
- Na primeira aula é interessante apresentar o aluno aos colegas e que esses se apresentem. Os alunos sem deficiência visual sabem exatamente quantos colegas tem na sala e quem são. Para os alunos com deficiência visual isso fica mais difícil e no caso de cegueira, impossível.
- Algumas instituições de ensino possuem programas de monitoria para apoio de alunos com deficiência. Procure saber como funciona na sua instituição.
- Caso faça um evento na sua unidade procure fazer e avise os colegas professores que façam a ampliação de cartazes e meios de informações instalados nas áreas comuns da universidade; e a ampliação dos materiais disponibilizados em simpósio, feiras e encontro que acontecem na universidade.
- Durante a inscrição em eventos promovidos dentro da instituição, utilize ficha de inscrição com um campo em que participantes com deficiência/necessidades especiais pudessem requisitar ferramentas de acessibilidade, material adaptado, etc.
- As barreiras arquitetônicas também afetam o aluno com deficiência visual. Caso você verifique que faltam placas de sinalização, piso tátil, e que a qualidade das calçadas esteja inadequada faça uma reclamação formal para o setor responsável pelo espaço da instituição com cópia para o Núcleo de Acessibilidade para que esse possa acompanhar e cobrar as modificações assim que haja verba disponível.
- Muitas vezes os alunos com deficiência visual utilizam o final das calçadas como piso tátil. Arvores que crescem no caminho, lixeiras inadequadas e bancos colocados em locais inadequados podem dificultar o deslocamento ou até mesmo causar acidentes. Caso o aluno reclame com você informe os órgãos responsáveis como acima.
- Seria fundamental que as placas de identificação como, por exemplo: números ou nome das salas, indicações dos banheiros femininos e masculinos fossem adaptadas para o Braille, principalmente se tiver aluno cego na unidade.
- A lei prevê faixas sinalizadoras próximas às escadas ou locais de alerta para que os alunos cegos e de baixa visão não corram risco de acidente nesse local.
Boas práticas acadêmicas
- Muitas vezes o aluno com baixa visão, visão monocular e daltonismo passam despercebidos e com medo de sofrerem represálias não se identificam. Por isso, todo começo de semestre pergunte se algum aluno possui alguma deficiência ou necessidade específica.
- A Lei 13146/15 preza o Estudo de Caso, qualquer atendimento educacional especializado deve ser iniciado com uma conversa com o próprio aluno sobre como ele aprende.
- A melhor pessoa para lhe informar como deve ser a preparação dos textos utilizados na disciplina, de como devem ser os slides utilizados em aula e de como se deve descrever os elementos não visuais, é o próprio aluno com deficiência.
- Independente de saber da existência de alunos com deficiência na sua turma, caso queira já deixar preparado os textos utilizados na disciplina, o professor além do texto utilizado convencionalmente poderia já deixar disponibilizado um com letra ampliada (sugerimos tamanho fonte 20) e um texto salvo como TXT. Isso facilitaria muito a leitura dos alunos com baixa visão e para utilização de leitores de tela (normalmente aceitam txt) por alunos cegos.
- Antes de imprimir a ementa, procure sempre a ementa se tem algum aluno que necessita de alguma forma especial de impressão, Braille, fonte ampliada ou acesso ao TXT. Este educando também quer saber e tem o direito ao acesso à ementa e ao conteúdo programático
- Pergunte aos seus alunos que tamanho de fonte deve usar nos slides, prefira contrastes preto e branco e caso tenha figuras cuide de descrevê-las.
- Quando for descrever os elementos não visuais de informações que sejam relevantes para o conteúdo abordado, descreva as figuras e fotos, mas tenha bom senso quanto a quantidade de informações.
- Sempre que estiver escrevendo no quadro o jeito maisadequado é narrar a sua escrita no exato momento em que está escrevendo.
- Para que a pessoa com baixa visão tenha acesso a conteúdos expositivos (panfletos, recados e conteúdo no quadro ou slides) é necessário que o professor oralize todas as informações visuais que o aluno não tem acesso por motivo de deficiência.
- O professor deve encaminhar com antecedência (no início do semestre) para o órgão responsável pela preparação de materiais acadêmicos as cópias digitalizadas de todos os textos utilizados na disciplina, os livros ou referência de livros que não tiverem digitalizados e o cronograma com data de utilização de todo o material na aula para que seja adaptado às especificidades do aluno. A preparação de material pode não ser rápida, pois envolve as ações: digitação, digitalização, correção, revisão, ampliação, conversão de texto para áudio, adequação de imagens e gráficos, obter textos na internet, entre outras.
- Encaminhe com antecedência o material de recursos audiovisuais (Power Point, filme) e materiais com planilhas, tabelas ao aluno ou ao seu monitor para que ele possa encaminhar para as modificações adequadas, possibilitando ao aluno acompanhar as aulas.
- Na maioria das instituições existe um órgão responsável por adaptar todo o material para o aluno com deficiência visual.
- Procure escrever letras grandes e claras no quadro.
- Muitas vezes o aluno com deficiência visual demora mais tempo para ler e responder as avaliações acadêmicas. Ainda na Lei 13146/15 no Art. 30 se prevê a “dilação de tempo, conforme demanda apresentada pelo candidato com deficiência tanto na realização de exame para seleção quanto nas atividades acadêmicas, mediante prévia solicitação e comprovação da necessidade”.
- Se possível prepare antecipadamente gráficos e desenhos contornando-os com cola 3D, desenhando sobre tela quadriculada (como a que retém insetos em janelas) ou feita em material maleável como sobre uma folha EVA, as limitações/formas podem ser marcadas com uso do barbante, os contornos ficam com relevo e facilitam a interpretação e entendimento de pessoas com deficiência visual. Ou solicite ao Núcleo de Acessibilidade que providencie com antecedência.
- Ao utilizar filme como recurso didático, discuta com o aluno previamente a melhor solução. Não fazer uso de filme mudo na turma deste aluno.
- Discuta previamente com o aluno a forma viável de avaliação. A avaliação adaptada é um direito do aluno prevista na Lei 13146/15. Converse com seu aluno se a avaliação escrita pode ser modificada para avaliação oralizada, prova impressa em Braille, prova impressa em letra ampliada, prova realizada em computador com leitor de tela ou outro tipo de avaliação que dê conta da especificidade do aluno e da disciplina.
- Ter ciência que o aluno faz uso de tecnologia assistiva durante as aulas (tablet, celulares, computadores, lupas, máquina braile, etc).
- Permitir ao aluno gravar as aulas como recurso de suas “anotações”
- Ao usar mapas, gráficos e figuras, ter o cuidado de descrevê-los.
- Alguns alunos com sensibilidade a luz (fotofobia) podem enxergar melhor em ambientes menos iluminados, já outros preferem ambientes mais claros. O professor deve controlar a iluminação da sala, tendo em vista o conforto visual de todos os alunos.
- Deve-se orientar o acadêmico para que trabalhe com áudio-books e gravadores de áudio, porém o acadêmico pode escolher por fazer uso de material em Braille. Material específico pode ser solicitado na instituição no Núcleo de Acessibilidade ou órgão correspondente, ou ainda na biblioteca braile de Goiânia: braille-jaa@uol.com.br ou pelo site da Fundação Dorina Nowill.
- Muitos documentos não podem ser agregados ao acervo de textos digitais por estarem mal identificados, danificados (sublinhados à caneta, marcados com marcadores de texto, ou com observações e anotações nas margens) e isto prejudica a interpretação por parte dos softwares utilizados. Diante de tais fatos, torna-se essencial a colaboração dos professores para encaminharem com antecedência o cronograma da disciplina com a bibliografia recomendada.
- O uso de software com síntese de voz torna-se uma alternativa valiosa para a obtenção da leitura imediata, tais como: Sistema Dosvox, Deltatalk, NVDA, Virtual Vision, Jaws, Orca e Daisy, aplicativo para Android. Para utilização dos textos da disciplina nesses programas deve-se disponibilizar o texto para o aluno em formato TXT.
- Todos os alunos com deficiência têm direito a ampliação do tempo de integralização de curso (Lei 13146/15). Se for o caso sugira ao seu aluno que ele faça menos disciplinas por semestre e faça o curso com mais calma e tempo.
- Caso tenha computadores ou laboratório de informática na unidade solicite que os programas leitores sejam instalados em todos os computadores.
- Algumas instituições utilizam sistemas computacionais acadêmicos (ex. SIGAA) que possibilitam que o professor disponibilize todo material para os alunos pelo sistema. Esse fato facilita para os órgãos responsáveis na instituição pela adequação do material para que efetive essa preparação.
- O quadro branco escrito com caneta preta costuma ser mais visível para as pessoas com deficiência visual do que as lousas de giz. Caso tenha aluno nessa situação solicite que a troca de sala para onde tenha esse quadro seja realizada.
- Ofereça as primeiras cadeiras para o aluno com deficiência visual e reforce com a turma essa necessidade
- Alguns alunos utilizam o apoio de tablets ou outros equipamentos eletrônicos, nesses casos, os textos e livros devem ser disponibilizados em .mobi ou .epub.
- Dependendo, os equipamentos e lupas que os alunos com deficiência visual utilizam é importante disponibilizar uma mesa maior que proporcione mais espaço.
- Professor precisa rever dinâmicas para formação de grupos de trabalho. Os estudos apontam a dificuldade/rejeição dos alunos com deficiência em grupos de trabalho. É preciso ter cuidado para o estudante não ser discriminado tendo como base a deficiência.
Depoimentos
Para finalizar deixamos uma mensagem de uma aluna com deficiência visual para os professores:
É necessário que se entenda que nós não somos de outro mundo – somos pessoas como quaisquer outras. Sou uma pessoa com deficiência, acredito, porque o mundo é inacessível, apresentando inúmeras barreiras para uma participação efetiva, constante e numerosa nossa. Ao termos contato com as ferramentas certas, essas barreiras desaparecem e nos comportaremos como qualquer outro discente. Podemos falhar – e é um direito nosso, afinal, mas também podemos decolar. Fale com as suas turmas. Seja aberto a críticas. Entenda que está, assim como qualquer outra pessoa, em uma posição de aprendizado constante. Nunca se esqueça que somos pessoas completas, independentes. Muitos de nós na universidade já somos adultos. Não nos veja como exemplo de superação. Se é tão impressionante uma pessoa com deficiência/necessidades especiais alcançar o nível superior de ensino, algo está errado. Posso resumir tudo isso em uma palavra: empatia. Incorporem-na. (Aluna A/DV)
Indicação de filme
A Cor do Paraíso. Majud Majidi. Irã, 1999.
Hoje eu quero voltar sozinho. Direção: Daniel Ribeiro, 2014.
Castelos de gelo. Direção: Donald Wrye, 1978.
Dançando no Escuro. Direção: Lars Von Trier, 2000.
Indicação de livros
MEC. Formação Continuada a Distância de Professores para o Atendimento Educacional Especializado: Deficiência visual. SEESP / SEED, Brasília/DF – 2007.
VENTAVOLI, Fabíola Magda Andrade. A informática como ferramenta e proposta educativa aos indivíduos portadores de deficiência visual. Mococa: 2012.
BRASIL. Orientação e Mobilidade: Conhecimentos básicos para a inclusão do deficiente visual / Elaboração Edileine Vieira Machado. et al. - Brasília: MEC, SEESP, 2003.
GIL, Marta (Org.). Deficiência visual. Brasília: MEC. Secretaria de Educação a Distância, 2000.
BRASIL. Guia orientador para acessibilidade de produções audiovisuais. 2015.
BRASIL. Guia para produções audiovisuais acessíveis. 2016.